Começámos a conversar online numa quarta-feira. No sábado seguinte estava num bar a contar a uma amiga querida o quão acompanhada me sentia. Até essa altura acho que esperava um flirt, uma brincadeira, talvez até um pequeno affair escaldante, mas foi dessas horas maravilhosas de conversa sobre tudo e sobre nada que nasceu uma pequena cumplicidade, um pequeno nada que foi crescendo até poder ser tudo. Até PODER ser tudo.
Falávamos de ti, de mim, de nós. Talvez te seja mesmo difícil falares de ti, parece-me agora que te conheci melhor por escrito do que frente a frente. Havia planos relacionados com hobbies e interesses comuns, havia “promessas perdidas escritas no ar” e havia interesse, muito interesse, mesmo, em continuar aquelas conversas intermináveis que pareciam nunca se ir esgotar. Foram dias mágicos. Foram dias passados a sonhar, a sorrir, e a sorrir de tanto sonhar.
Estava algo para acontecer. Tu sabias. Eu sabia. E íamo-nos aproximando cada vez mais. Trocamos números de telemóvel e começaram as sms espontâneas, curtas, provocantes. Nessa semana vimo-nos várias vezes e de todas as vezes que nos separávamos trocámos sms de seguida. 30 segundos depois. Havia sempre algo a comentar, um rasto para deixar, uma presença especial para marcar. Foram dias mágicos.
Por força das circunstâncias, tinha data para acontecer. Não é charmoso nem estiloso de contar nestas linhas, mas foi a nossa realidade. Nunca mais chegava aquele dia… Na véspera mandaste uma boca, querias deitar tudo ao ar e estar comigo nessa noite. Eu, mais comedida, mais segura de mim mesma, fiz-te frente, recusei, combinei para o dia seguinte. Mas esse dia parecia não mais chegar e as tuas sms queridas e ternurentas, enviadas em compasso rápido e acelerante, iam aumentando em mim a expectativa, a ansiedade, a vontade de te ver. Acedi.
Apareceste-me à frente a meio da noite e passámos umas boas horas a conversar. Apenas a conversar. Dias mais tarde dir-me-ias que tinhas “vindo marcar pontos”. Foi difícil resistir, mas tanto tu como eu respeitámos bem as distâncias de segurança e as conversas “proibidas” e conseguimos resistir. Foi difícil. Muito difícil. Especialmente quando à despedida te aproximaste de mim lentamente para me dar um beijo na face. Um beijo que parecia nunca ir ocorrer – a barba fofa roçava de leve a minha face, senti o teu nariz perto da minha orelha, a barba novamente e um beijo na face, a 3 mm de distância do canto da minha boca. Suspiro! Apetecia-me gritar de nervos. Apetecia-me agarrar-te pela cintura, puxar-te e deixar esse beijo ansiado acontecer. Mas não, ainda não podia ser. Portanto cerrei os pulsos, mantive as mãos para baixo, cerrei os dentes, fechei os olhos com muita força e esperei que passasse. Não contava que até te atirar para dentro do elevador fosses repetir essa proeza mais duas vezes. E eu sempre a resistir. Não sei como. Foram momentos intensos.
Finalmente chegou o dia seguinte. Combinamos um jantar improvisado e vieste cá ter comigo. Conversámos, rimos, brincámos. Estavas sentado à mesa e mexias o pescoço como se te incomodasse. Instintivamente, aproximei-me de ti, pelas costas, e comecei a massajá-lo. Senti de perto o teu perfume e uma grande vontade de te abraçar. Deixei os meus braços descerem pelos teus e aí levantaste-te de repente. Agarraste o meu braço direito com o teu esquerdo, fizeste uma pirueta sobre ti mesmo e ficaste de pé, à minha frente, unidos pelo braço. Uma manobra perfeita como as que vemos nos filmes. Sorríamos um para o outro e a senti a tua respiração, ofegante, como a minha. Aproximamo-nos um do outro e roubei-te uma snifadela no pescoço. E tu acariciaste-me a face, de leve, como na noite anterior. Fizeste vir ao de cima todas as emoções recalcadas daquela noite durante os momentos intermináveis em que sentíamos a proximidade um do outro. E, finalmente, beijámo-nos. Com toda a intensidade, a ternura e a premência antecipadas. Com braços e cinturas e pescoços e olhos e costas e braços. Foram momentos mágicos.