Saturday, February 27, 2010

Cheiro à Química Mágica de uma Aproximação

Começámos a conversar online numa quarta-feira. No sábado seguinte estava num bar a contar a uma amiga querida o quão acompanhada me sentia. Até essa altura acho que esperava um flirt, uma brincadeira, talvez até um pequeno affair escaldante, mas foi dessas horas maravilhosas de conversa sobre tudo e sobre nada que nasceu uma pequena cumplicidade, um pequeno nada que foi crescendo até poder ser tudo. Até PODER ser tudo.


Falávamos de ti, de mim, de nós. Talvez te seja mesmo difícil falares de ti, parece-me agora que te conheci melhor por escrito do que frente a frente. Havia planos relacionados com hobbies e interesses comuns, havia “promessas perdidas escritas no ar” e havia interesse, muito interesse, mesmo, em continuar aquelas conversas intermináveis que pareciam nunca se ir esgotar. Foram dias mágicos. Foram dias passados a sonhar, a sorrir, e a sorrir de tanto sonhar.


Estava algo para acontecer. Tu sabias. Eu sabia. E íamo-nos aproximando cada vez mais. Trocamos números de telemóvel e começaram as sms espontâneas, curtas, provocantes. Nessa semana vimo-nos várias vezes e de todas as vezes que nos separávamos trocámos sms de seguida. 30 segundos depois. Havia sempre algo a comentar, um rasto para deixar, uma presença especial para marcar. Foram dias mágicos.


Por força das circunstâncias, tinha data para acontecer. Não é charmoso nem estiloso de contar nestas linhas, mas foi a nossa realidade. Nunca mais chegava aquele dia… Na véspera mandaste uma boca, querias deitar tudo ao ar e estar comigo nessa noite. Eu, mais comedida, mais segura de mim mesma, fiz-te frente, recusei, combinei para o dia seguinte. Mas esse dia parecia não mais chegar e as tuas sms queridas e ternurentas, enviadas em compasso rápido e acelerante, iam aumentando em mim a expectativa, a ansiedade, a vontade de te ver. Acedi.


Apareceste-me à frente a meio da noite e passámos umas boas horas a conversar. Apenas a conversar. Dias mais tarde dir-me-ias que tinhas “vindo marcar pontos”. Foi difícil resistir, mas tanto tu como eu respeitámos bem as distâncias de segurança e as conversas “proibidas” e conseguimos resistir. Foi difícil. Muito difícil. Especialmente quando à despedida te aproximaste de mim lentamente para me dar um beijo na face. Um beijo que parecia nunca ir ocorrer – a barba fofa roçava de leve a minha face, senti o teu nariz perto da minha orelha, a barba novamente e um beijo na face, a 3 mm de distância do canto da minha boca. Suspiro! Apetecia-me gritar de nervos. Apetecia-me agarrar-te pela cintura, puxar-te e deixar esse beijo ansiado acontecer. Mas não, ainda não podia ser. Portanto cerrei os pulsos, mantive as mãos para baixo, cerrei os dentes, fechei os olhos com muita força e esperei que passasse. Não contava que até te atirar para dentro do elevador fosses repetir essa proeza mais duas vezes. E eu sempre a resistir. Não sei como. Foram momentos intensos.


Finalmente chegou o dia seguinte. Combinamos um jantar improvisado e vieste cá ter comigo. Conversámos, rimos, brincámos. Estavas sentado à mesa e mexias o pescoço como se te incomodasse. Instintivamente, aproximei-me de ti, pelas costas, e comecei a massajá-lo. Senti de perto o teu perfume e uma grande vontade de te abraçar. Deixei os meus braços descerem pelos teus e aí levantaste-te de repente. Agarraste o meu braço direito com o teu esquerdo, fizeste uma pirueta sobre ti mesmo e ficaste de pé, à minha frente, unidos pelo braço. Uma manobra perfeita como as que vemos nos filmes. Sorríamos um para o outro e a senti a tua respiração, ofegante, como a minha. Aproximamo-nos um do outro e roubei-te uma snifadela no pescoço. E tu acariciaste-me a face, de leve, como na noite anterior. Fizeste vir ao de cima todas as emoções recalcadas daquela noite durante os momentos intermináveis em que sentíamos a proximidade um do outro. E, finalmente, beijámo-nos. Com toda a intensidade, a ternura e a premência antecipadas. Com braços e cinturas e pescoços e olhos e costas e braços. Foram momentos mágicos.

Tuesday, February 23, 2010

Cheiro a Química que se Faz e se Desfaz

Agora que se desfez a ilusão e que fui conquistada por um desânimo geral, sinto que já não és tão grande que não caibas naquelas “letrinhas de mim”. Penso, pelo contrário, que devo encaixar-te nessas letrinhas de mim para te arrumar num ficheirinho nas minhas memórias e poder ver-te no meu passado, conseguir integrar-te no meu presente, de forma neutra, amigável, mas sem me permitir imaginar-te no meu futuro.

Vou contar a tua história. A história da nossa aproximação. Tu, eu e tudo o que não podia ser. Ou que ainda não podia ser. Que é uma história gira, ternurenta e apaixonante, como todas as histórias de telenovelas que se decompôem em pedacinhos mais pequenos para parecer que são maiores ainda... Foram muitas etapas pequeninas, passinhos de formiga que rapidamente se avolumaram e nos embrulharam numa espiral tal que nos consumiu numa paixão assolapada…
Sorrio ao recordar.

No início era apenas uma troca de palavras, de imagens, de emoções. Foi um diálogo para além das palavras, dos sons, dos olhares que trocávamos. Tínhamos uma comunicação que parecia fluir por ondas cósmicas, electromagnéticas, seguindo uma linguagem própria que nem eu nem tu conhecíamos. Não nos podíamos falar, nem olhar, nem tocar. Só sentíamos a presença forte do outro ali por perto...

Assim que surgiu a oportunidade, enviaste-me um mail. Inofensivo, parecia, mas desde o início que tudo tinha intuito e duplo significado. Também fui apanhada quando te dei um contacto de chat disfarçadamente, mas de propósito, que te apressaste a adicionar para iniciar conversas. Não perdeste tempo. Em altura alguma perdeste tempo, tudo foi jogado de modo a fluir… Em retrospectiva, poderá ter sido tudo um jogo, mas recordo esta história como terrivelmente romântica, esperançosa, terna, carinhosa, com a magia característica do aproximar entre duas pessoas que se encontram por um acaso do destino e que querem gostar uma da outra. Mais…

Vimo-nos. No meio de imensa gente. Passei muitas vezes por ti, dias depois dizias “Quero ir ter contigo para ver se estás a usar o mesmo perfume de sábado. Era boom”. Mas nesse encontro público evitámo-nos. Fizémos ambos um esforço sobre-humano para nos sermos indiferentes, para nos sermos neutros. Se alguém estivesse com atenção teria notado que nos esforçámos. Demais.

As conversas e mensagens intensificaram-se e foram-se tornando mais reais e mais cruas. Revelavam desejos, intensões, emoções. “Apetece-me”, dir-me-ias, na noite que não seria, e essa frase ficou registada como nossa, como código central da nossa linguagem. “Hmm”.

E houve aquela noite que não poderia ser. A noite do beijo prometido que não podia ser um beijo. Uma noite normal, como todas as outras, mas tão abertamente cheia de desejo e vontade que foi como o selar de um contrato. Tu querias, eu queria, nós queríamo-nos. Por isso tinhas essa necessidade premente de me ver, naquela noite, naquelas circunstâncias, apesar de tudo. E eu tinha de resistir, mas senti necessidade de ceder um bocadinho. Afinal de contas, queria ver-te. Queria muito. Queria sentir cara a cara aquilo que se adivinhava nos momentos em que estávamos juntos sem estar juntos. Semanas mais tarde dir-me-ias que esta noite especial não significou o que parecia significar.

Foi uma Química que nos aproximou um do outro, foi outra química que nos uniu. A pureza desta relação reside nos momentos únicos e presentes que foram vividos. Naquela vontade que ambos tivemos de estar juntos, de nos termos um ao outro. De nos termos mais um pouco. Uma harmonia tão real e tão vivida que dá mesmo pena teres querido abdicar dela. Tenho saudades. De nós. Na química dos olhares, das conversas, dos convites, dos desafios, das combinações, dos encontros fora de horas, dos braços, dos amassos, das dentadas, das snifadelas, dos ombros, dos duches e em Braille entendíamo-nos bem, muito bem… Tenho saudades.

Sunday, February 21, 2010

Cheiro a Química que se esfuma no Ar

No outro dia calhou-me esta frase no pacotinho da Nicola "Um dia deixo de pensar em ti e parto para outra. Hoje é o dia". Estava a jantar fora com duas amigas que me deitaram um olhar incisivo e disseram: "Vês? Hoje, Eva, hoje!!" e não pude evitar sentir um baque no estômago, uma dorzinha leve que se insinua no peito, aquele sentimento de derrota que se apodera de nós e nos diz: "It's ok to give up now".

Guardei o pacotinho. Trouxe-o para casa e dependurei-o ao pé de um mapa semanal que tanto rabisco. Pensei que se fosse lendo aos bocadinhos, aquele pacotinho, interiorizaria a mensagem mais facilmente. E menos dolorosamente. Um dia. Deixo. De pensar em ti. Ui! Hoje...

Há semanas atrás corria tudo sobre rodas. Mensagens, conversas, indirectas, convites, muitas iniciativas da tua parte. E os momentos a dois? Meiguices, ternuras, olhares, toques, aromas, mais aromas, mais toques e sei lá que mais.. De uma envolvência que ultrapassa o físico, ultrapassa a química, ultrapassa-te a ti e a mim e a nós. Não te sei descrever o que sinto por ti, mas sei dizer como me sinto quando estou contigo. E a falta que me fazes quando já não estás por perto. E quando não respondes às sms. E quando não tens iniciativas. E quando me dás respostas secas e ocas. E quando te escondes por entre meias palavras que só conversas agrestes e chorosas conseguem puxar para fora e esclarecer.

Corria tudo bem, tivémos umas horas mágicas que foram um momento auge.. Em menos de nada tornaste-te frio. Distante. Começaram as respostas frias e evasivas. Começaram as minhas dúvidas, o meu não querer acreditar, pois se até àquele momento estávamos em plena sintonia e a nossa relação era tão maior que nem cabia em letrinhas de mim, e todos os pequenos passos foram dados por ti, até os grandes passos, aqueles que eu não podia dar porque naquela altura não podíamos estar juntos, se os tinhas dado todos, que se teria passado? Horas de dúvidas, pensamentos, desabafos, aconselhamentos. Uma tortura. Até te confrontar. Custou horrores, mas tinha mesmo de te confrontar.

Dizes que tudo isto é casual, que é uma coisa de momento, que te recusas a fazer planos. God, és incapaz de me dizer se no dia seguinte à tarde vais ter tempo para estar comigo. É uma coisa tão simples, yet, és incapaz de te comprometer a esse nível. E uma coisa tão pequena. Dizes que é coisa espontânea, do momento, na onda de "eu estou só e apetece-me e se a ti te apetece também, óptimo! Se não der, fica para outra vez". Só que até agora estive sempre disponível. Sempre com vontade. Sempre com tempo. Vou ter de deixar de estar. Vais ter de sentir o que é desejares-me e não me poderes ter. E vou ter de aguentar firme, imaginando-te a desejares-me, ou a ignorares-me, durante minutos intermináveis em que vou saber que estavas disponível, com vontade de estar comigo, e fui eu quem não aceitou. Vou roer-me toda de imaginar que nesse momento poderias estar a abraçar-te...

Estiveste muito tempo com uma pessoa. Eras feliz. Tinhas planos. Explicas-me que é por causa disso que agora te recusas a fazê-los. Até com amigos. Até a visualização de jogos de futebol só combinas no próprio dia. Sobre esse grande primeiro amor não me contas mais do que isto e recusas-te a deixar-me perguntar mais sobre o assunto. Não pergunto. Nem sei se quero saber. Apenas quero compreender as barreiras que construiste à tua volta e como e quando e se algum dia serão deitadas ao chão.

Até porque te esqueces de que eu não sou como ela. E de que tu já não és a mesma pessoa. E de que eu não tenho o poder de te magoar como ela tinha, que te conhecia tão bem. E esqueces-te de que eu, que estou aqui, agora, a querer conhecer-te, por gostar de ti, não te pretendo magoar... Pelo contrário, pretendo conhecer-te para te cativar, para saber "what makes you tick", para saber como te mostrar que eu sou quem tu mais desejas.. Quem deve estar a teu lado...

Dizes que não te consegues dar mais a conhecer. Nesta fase. E fazes questão em ressalvar que é apenas uma fase. Mas depois da relação de tiveste essa fase ainda vai durar anos. Se o teu luto durar metade da duração de uma relação, como os meus, estamos a falar em.. cinco vezes quatro noves fora.. Muito tempo. Mesmo.

A meio de uma conversa destas "chatas", mais difíceis, confrontei-te. Afinal o que quererias de mim? Não terias necessidade nenhuma de aturar conversas assim, penosas, nem mal-entendidos.. Admitiste não o saber. "Eu quero qualquer coisa. Claro que quero. Mas não sei o que é".

Tuesday, February 2, 2010

Cheiro a Química no Ar

Dias depois, começava a sentir grandes emoções.

Começou devagarinho, devagarinho, com uma aproximação suave e demorada que se foi apoderando de mim... Um desenrolar de surpresas e um desfolhar de sorrisos..

De momento, não sei contar mais nada. Esta história é tão maior que não cabe nestas letrinhas de mim. E tem aromas... muitos aromas...:)

Friday, January 1, 2010

Cheiro a qualquer coisa à Primeira Vista

Fascinante, absolutamente fascinante. O que dizias, as piadas que me roubavas, e que eu juro, juro que juro, que era eu quem as ia dizer.. A postura, o sorriso, o olhar.. Tão cativante que te disse:
"Give me a week of your time."
"A week, a month, a year..."
A resposta certa na ponta de língua. Mordaz e sempre pronto.
Não nos aproximámos do ano, mas foram meses de grandes emoções. Tenho saudades de sentir grandes emoções como essas.

Wednesday, September 16, 2009

Cheiro a Olhares sem Guião nem Legenda

Conhecemo-nos na véspera de um dia importante, num café à beira-rio, num local ventoso do Estoril. Éramos muitos à mesa e conversamos bastante. Da vida, do passado, do futuro, dos regressos às origens. De tudo e de nada. De cada um e de todos nós.

No dia importante estavas de serviço a filmar. Foi preciso passarem duas horas para passar por ti e me dizeres "ainda não nos cumprimentamos, pois não?", altura em que notei (e anotei) o teu sentido de humor, de momento e de perspicácia. Gostei.

Estivémos tão ocupados a noite toda que só na hora da pista de dança é que nos voltamos a aproximar um do outro. E foi isso que acontenceu a noite toda. Íamo-nos aproximando, aparecia alguém, ou uma música nova, ou havia uma pé de dança especial para executar, e lá nos afastávamos. Senti que controlavas onde eu estava e o que fazia e lá nos íamos encontrando de quando a quando.

A meio da noite disseste-me que era pena eu não fumar, pois podias vir pedir-me qualquer coisa. Como se fosse preciso uma desculpa dessas para te aproximares de alguém. Recordo a letra de “Aurélie” (Wir sind Helden) que já outro Stefan me havera ensinado: “Die Deutschen flirten sehr subtil” (os alemães são subtis a flirtar). Ou têm mais medo de arriscar. Agora sorrio porque não acho que tivesses medo de avançar. Foste avançando. Ias olhando, ias te aproximando e mandavas uma ou outra boca que só te tornavam mais charmoso.

Às tantas sou apanhada pelo bouquet. Literalmente. A noiva atira-o pelo ar a pique, para trás, e eu, que tinha sido empurrada para a primeira fila, imagino-o a cair atrás de mim e desvio-me para a direita para o deixar passar. Apanho um susto descomunal quando, de repente, cai a pique e se instala no meu ombro, bem aninhado na beira do pescoço. Não caiu, nem sequer ricocheteou. Foi preciso tirá-lo do meu ombro. Surreal.

Logicamente, fui gozada por todos e todas. Ainda tentaste apanhar a liga, mesmo sem saberes para quê, e só um pouco depois, estava eu ainda de bouquet na mão, me dizes: "Então, quais são os teus planos para o futuro?". Depois de tanta conversa de projectos de vida e viagens topei que não te referias a isso e disse: "Parece que tenho de casar, não é?". Bebes um gole de cerveja e disfarças: “ah, ok, então depois convida-me". “Vais esperar sentado, isto vai demorar porque não tenho namorado". Sorriso. Silêncio. Eu pergunto: "Então e quais são os teus planos para o futuro?". Tu, muito frontal: "Também ando à procura da minha mulher". Engoli em seco.

A conversa dirigiu-se para sintonias e dessintonias, amores e azares. “A falta que faz duas pessoas estarem no mesmo comprimento de onda”. Desconversei. Porque se houve coisa que senti, que soube, foi que estávamos no mesmo comprimento de onda. Sem palavras nem promessas. Era como se um lugar que apenas nós conhecêssemos e onde durante a festa nos íamos encontrando.

Chegou a hora de ir embora e fui dizer-te um “Até à próxima”. Devolveste-me o abraço leve mas nem percebeste que eu me ia embora. Quando te expliquei, esperaste que me calasse, agarraste-me no braço, baixaste o teu tom de voz, mais íntimo e disseste "foi excelente ter-te conhecido". Foi um momento tão intenso que nem sei. Não soube responder. Olhei de volta nos teus olhos e abracei-te novamente. Desta vez com força. E tu a mim.

Juntaram-se o teu amigo e a minha amiga e continuamos à conversa enquanto se decidiam transportes. Descobrimos que íamos partir no dia seguinte exactamente à mesma hora, e no dia seguinte descobri que eram os únicos dois voos a partir àquela hora. De terminais diferentes, claro. Ainda me perguntaste se vinha pelos teus lados, se no caminho para o aeroporto passava pelo Estoril. Iríamos juntos?

Éramos só os quatro na festa e vocês precisavam de boleia. Eu e a minha amiga decidimos levar-vos até mais perto de um táxi, mas como nunca encontramos nenhum deu tempo de chegarmos à porta do vosso hotel.

Criticaste a minha velocidade alucinante naquela estrada tortuosa. Na verdade a estrada não era assim tão perigosa, já a tinha percorrido naquela tarde e sabia que era segura e não continha detalhes perigosos. Ah!, e eu ia a 40 Km/h. Tanto pediste para eu abrandar que te disse, com alguma graça “Se calhar não queres que a estrada chegue ao fim”. Sorriste: “Nein, eigentlich will ich nicht” (não, realmente acho que não quero). Como se aquela estrada fosse todo o nosso percurso. Como se depois dela nos tivéssemos de separar, como se tivéssemos de parar o que estávamos a fazer, como se aqueles momentos já esticados no tempo fossem um balão em expansão prestes a rebentar. Acho que foi com essa frase que soube que não haveria essa rotura.

Quando nos despedimos, no fim da noite, chamaste-me novamente Sonnenschein (raio de sol), abraçaste-me com imensa força, num abraço intemporal, quente, forte, sentido, não me deixaste falar, enterraste a cabeça no meu pescoço e falaste-me ao ouvido: “És mesmo especial.. bis bald” (até breve). Afastamo-nos, olhas-me nos olhos e dizes novamente “bis bald, ok?”.

Não te conheço. Não sei quem és nem quem mostras ser. Mas sinto-me bem ao pé de ti. Existe toda uma envolvência em torno de um entendimento que não tem língua, nem palavras, nem sinais, nem complexos, nem limitações. É feito de movimentos, de posições e de sorrisos. Sem guião nem legendas.

Cheiro a Sintonia de Verão

Saldei a minha dívida com o cosmos. Há mais de 12 anos que carrego na alma o peso de uma falta de frontalidade, de um gesto romântico que não merecia receber, de um anel que me acompanha sempre para me lembrar -não sei se de um amor que deitei a perder, se de uma juventude que a ele estava associada, se dos erros que não gostaria de repetir, - e ainda o peso da dor que causei a alguém para quem qualquer enaltecimento seria pouco. Mas hoje, no mesmo aeroporto, dei o braço a torcer e cometi um gesto romântico.

O único gesto romântico possível seria esquecer-me de mim e ir a teu encontro. Fui cedo para o aeroporto, no meu íntimo já sabia o que queria fazer mas ainda não tinha tomado a postura decisiva correcta. Fui para o Terminal 2 cedo demais, ainda antes de abrirem os check-ins, e lá despachei as malas. Com sorte até me safei de pagar excesso de bagagem, acharam que eu tinha cara de estudante. Perguntei como funcionavam as shuttles entre os Terminais: “Se quiser, pode passar no Raio X no Terminal 1, visitar as zonas comerciais e regressar a este terminal pela shuttle interna, que a vai deixar mesmo à beira das portas de embarque, pronta para embarcar para o seu vôo”. Algum dia haveria de experimentar estas novidades, e por que não hoje?

Do it, do it, do it, do it, do it, do it, do it now, say it, say it, say it, say it, say it, say it, say it now”. (Hot Chip)

Fui. Sabia que corria o risco de não te encontrar, sabia que corria o risco de esperar por ti uma hora para conversarmos dez minutos, sabia que te poderia ver a correr ao longe e nunca te alcançar, nem veres que estive lá, sabia que poderia perder o meu avião estando à tua procura, não conhecia os timings das shuttles e o mais certo seria perder-me. Mas não tinha medo – queria procurar-te, queria estar ali, no aeroporto, que era o único sítio concebível para estar, sentindo-te perto, ansiando pela tua presença. Queria saber que, pelo menos, tinha tentado ver-te novamente.

Os minutos passavam e não te via. Concentrei-me, pensei em ti, na nossa sintonia tão leve e tão sem legendas, e o meu telemóvel começou a apitar. Um sinal, seria? Decidi dar uma pequena volta e foi quando voltei ao mesmo ponto que te vi no bar. De tanto procurar nem sabia se te iria reconhecer, passava tão perto das pessoas que devem ter pensado que era terrivelmente míope. Mas quando te vi nem um segundo precisei para o saber. Eras tu. De T-shirt branca. Entroncado. Mãos grandes. É incrível como existem momentos em que já não há miopia.

Eu sabia que te ia encontrar. Sabia. Sentia. Pressentia. Eu sabia que irias ao bar. Como bom alemão que és, foste buscar uma cerveja de recordação. Eu sabia que o irias fazer, só não adivinhava em que bar, quando, como, sei lá…

Cheguei mesmo ao teu lado e disse “hi”. Largaste um enorme sorriso e nem querias crer que eu ali estava. Que surpresa! Ainda bebemos uma água juntos e nos sentamos uns minutinhos à conversa. Foram poucos, mas excelentes, e fizeram-me esquecer toda a espera e a ansiedade por que tinha passado.

Assim que cheguei ao pé de ti fiquei calma, sentia-me bem. Não precisava de te explicar ao que tinha vindo, acho que tu o saberás, nem de justificar nada, nem a mim própria nem a ninguém. Estava ali porque o queria. E tu estavas contente por me ver. Falaste em voltar a Lisboa. Falei em juntar-me a ti. E por várias vezes disseste de forma ambígua que “das ist alles so schön” (isto é tudo tão bonito)… da última vez sorriste-me, olhaste-me no fundo da alma e eu sorri-te de volta a concordar. Foi óptimo…

Mais um abracinho forte, mais sorrisos, mais conversas directas mas subtis, mais olhares. Mexeste no telemóvel e roubei-to da mão, deste-me logo o código para o poder usar, inseri o meu número e dei-me um toque. “The oldest trick in the book”, pelo menos deste tempo dos telemóveis. Riste-te. E depois do abraço final falaste num chat qualquer. Sei que também te apetece conhecer-me. Aos bocadinhos.

Fui para um lado e tu para o outro. Hesitei em virar-me para te voltar a ver, e quando o fiz vi-te de pé, parado, a acenar-me. Tenho esta imagem ternurenta tatuada na memória.

Com tanta conversa saí do Terminal atrasada, já nas corridas para a minha porta de embarque, onde já não havia pessoas à espera e piscavam as letrinhas vermelhas de “Last Call”. Imediatamente imaginei o meu nome a ser chamado inúmeras vezes e eu sem o ouvir, tão longe e tão leve estava. Fui a última pessoa a embarcar, vergonhosamente sozinha no autocarro. Com um sorriso enorme nos lábios. Valeu a pena.

O meu avião na pista a preparar-se para descolar e não conseguia evitar pensar que minutos antes ou minutos depois estarias tu de partida, na direcção oposta. Numa tarde de sol, com o mar por companheiro, eu a caminho de casa e tu da tua, eu a caminho do sol posto e tu penetrando a noite escura, a levantar voo quase simultaneamente do mesmo aeroporto, em direcções opostas, para destinos com 4000 Km e 2h que nos separam… Uma visão poética.