Friday, January 18, 2008

Cheiro a Modernices

Um metrossexual a entrar num Audi A4. Sábado de manhã, 9h. A sair da minha casa.

Na brincadeira mas a sério, até parece que ando a subir de vida. As pessoas que me visitam saem lá de casa com kispos e roupas desportivas, a pé, de bicicleta ou de mota. O F. saiu de casaco comprido, calças beije e abriu o Audi à distância com o comando. Classe. Estilo. E o perfume certo. Mais um Armani. Mmm.. Sou louca por um Armani.

Cheiro a Paixão Platónica

Naquela noite apaixonei-me pelo teu sorriso. Ontem apaixonei-me pela cicatriz que tens na pálpebra esquerda. Adoro cicatrizes, trazem consigo personalidade e estórias a haver.

Naquela noite vi-te vibrar ao som dos anos 90. Aquelas melodias que me embalaram enquanto me criei, que me ajudaram quando me sentia só ou triste, que me motivaram quando tinha dúvidas. Aquelas músicas que me dizem tanto, que me fazem vibrar... Que me fazem sonhar outra vez. Também tu dançavas ao som das minhas músicas. E também os outros. Mas eu via-te só a ti.

Mexias as ancas sem medo, como deveria ser, como todos os homens deveriam fazer. Mas não fazem. Por medo ou vergonha, talvez. Com o andar desajeitado que tens nao esperava que te soubesses mexer. E eu observava-te. E sorria. Porque me sentia bem.

Estava leve, fresca, feliz. Apaixonada. Platonicamente apaixonada. Plenamente consciente de que as emoções exarcebadas que sentia não perdurariam, gozava cada instante. Olhava-te, sorria-te. Via-te dançar, sorrir, falar. E sonhava, alto, alto... Sem nunca cair ou me permitir adulterar a realidade.

Aquela noite foi mágica, quente, verdadeira, pura e bela. Estava apaixonada e não andava à conquista, não procurava prémio. Estava bem comigo própria e bem com a minha paixoneta. Foi uma noite de-li-ci-o-sa.

Até dançamos um com o outro. Senti o teu cheiro, o teu ritmo, os teus braços, as ancas, as pernas, as costas, os contornos de uns músculos a haver... e o anseio por um abraço. Foi difícil conter-me.

Ontem olhavas-me com olhos brilhantes, quase derretidos. Hoje também, e aproximavas-te de mim hesitante, quase a medo. Parecias um puto apaixonado. Como eu gostaria que fosses mesmo um puto apaixonado.

E não faço nada. Pois quero estar perto de ti e não estragar estes momentos, que são eternos. Estes momentos que me inspiram e acalentam a minha alma, que motivam e deixam sonhar. E sinto-me voar...

Cheiro a Emoções Teenagers

Aquela última noite custou a passar. O teu olhar procurava o meu e perdíamo-nos em longos momentos de brilho e emoção. Suspiro...

Ontem apareceste de surpresa e o castelo desvaneceu-se no ar... Não era suposto voltares, na minha cabeça e no meu coração já te imaginava longe, já te tinha mandado para a o outro lado do Globo.

O azul cristalino dos teus olhos puxava-me. Queria perder-me nos teus braços outra vez. Como naquele último abraço.

Vieste procurar-me para te despedires de mim. Foste querido, o abraço foi forte e sentido, longo e quente, e ainda me agradeceste. Pelo postal, suponho. Com o poema da Florbela.

Um abraço que me ficou na memória durante uns bons dias... Agridoce, sabia a todos os momentos que poderiam ter sido. Enfim...

E ontem, de repente, já não me sentia assim. Parecia ser apenas uma paixão platónica, de teenager, daquelas que não sobrevivem a uma semana sem ver o objecto do seu desejo. Será?

Cheiro a Suspiro

A dança do teu ombro.. será que me vais mostrar a magia que ela encerra?? Quem és tu que susurras sem falar, que me tocas sem eu te sentir, que me fazes sonhar, congelar o presente e viver entre o agora e o depois momentos secretos e apaixonados... perco-me nesses momentos em que não sou quem sou e tu deixas de ser quem és, agarro-me com esforço à realidade temendo dela desprender-me e procurar o teu abraçar... confundir esse momento intemporal com a realidade que o circunda e querer perder-me em ti... impossível...

Vejo a minha alma nos teus olhos, que me sorriem brilhando, como se me desafiassem a mergulhar nesse azul salgado e daí flutuar até aos meus sonhos e às minhas mais profundas raízes... esse azul que me toca bem no fundo onde encontra um verde com o qual se mistura naturalmente, numa fusão equilibrada e perfeita de tons e sombras, texturas e estruturas... um entrelançar dançante que ensina e inspira... irradiando uma energia anímica de poder indescritível...

Fecho os olhos e imagino o que será sentir-te perto respirar... nervoso, ofegante, ansioso... o prenúncio de um beijo.. um pretexto, um empurrão, uma deixa, um toque... sentir a tua mão possante puxar-me para ti... fundirmos os nossos olhares num só até ser doloroso ver-te, até me entregar no envolvimento de um beijo...

Aquela indirecta cúmplice dita num momento tornado inocente, então desprendida de laços e dúvidas... o que disseste e desdisseste, que contudo não ficou por dizer e se afirmou na sua própria certeza... um desejo que também soubeste expressar sem nada mostrar...

Cheiro a Affair Secreto

Fizeste anos e convidaste-me para a festa na tua casa.

Fiquei surpresa, contente, amedrontada, até. Tirando o dia em que nos conhecemos, nunca saímos juntos com mais alguém. Encontrámo-nos sempre em casa um do outro. Como se fosse um affair a sério, de homem casado que visita a sua amante no apartamento por ele montado. Só que somos ambos livres e não temos nada a esconder. Ainda assim fomos e vamos vivendo esse affair pela calada...

Ia ver os teus amigos, saber quem eles são. Conhecer pessoalmente as mulheres de quem falavas e as quais receava serem alguém na tua vida. Ia ver os teus amigos que também conheço, ia mostrar-me a eles e assim confirmar as suas suspeitas do que se passa entre nós. Partilhar um segredo! Ah, como se eles já não soubessem, não tivessem sabido da tua voz. Mas enfim, receios...

Receio de me quereres fazer entrar no mundo dos teus amigos, de eu passar a ser mais uma para os cafés, os cinemas, os jantares e os jogos, deixando para trás os flirts, as carícias, os momentos de presença e ternura. Seria o fim de uma era e talvez fosse essa a tua idéia. Fiquei um pouco triste, confesso, percebi que apesar de tudo gostava e acreditava na nossa história. Sem contudo saber pôr-nos um rótulo.

E se me quisesses apresentar mesmo aos teus amigos? Se quisesses que esta amiga especial os conhecesse e se desse a conhecer? Se quisesses pô-la à prova? Se quisesses mostrar-lhe a tua vida e quem tu realmente és? E se quisesses que ela tomasse outro lugar no teu mundo?

Sei que quando estás comigo és tu, vejo a honestidade no teu olhar, e eu sou eu. Não te consigo mentir nem esconder os segredinhos próprios deste negócio de ser mulher. Até parece que transpiras um elixir da verdade que me faz falar.

Quando estamos juntos estamos juntos e sós. Não há telefones a tocar, nem mensagens a escrever, nem fugidas a correr. Estamos juntos porque e quando queremos. Como queremos. E nesse momento pertencemos um ao outro. Sinto-me viva, querida, desejada. Presente.

É como um sonho. Vivo contigo sonhos reais que me mantêem viva a chama do sonho. Porque sei que nesse mundo há-de haver um gentleman carinhoso, dançarino e educado, charmoso e dedicado, cansado e perdido na vida, à procura daquela pessoa a quem se possa entregar. À procura de alguém de confiança. Serás tu? Poderias ser tu, tu és assim...

Mas nem eu própria sei. Não estou apaixonada. Quer dizer, não há borboletas no estômago, não há ciúmes exacerbados e eu sei esperar. O que sinto por ti é algo de especial. Também acho que não estás apaixonado por mim. No fundo acho que somos duas pessoas que gostam uma da outra mas que não são capazes de arriscar.

Telefonei-te na véspera e fingi não saber que era o teu aniversário. Tinha até planeado uma sms de sedução, adorava ter sido o teu presente de anos. Menti e disse-te que andava ocupada com outras pessoas e que talvez por isso chegasse tarde ou tivesse de sair cedo da tua festa. Tu concordaste e ficaste contente por eu dizer que ia.

Vesti-me a matar, maquilhei-me de modo provocante, usei o perfume certo e pus-me a caminho, duas horas depois da festa começar.

Notei que ia porque te queria ver. Porque queria ver-te no teu habitat. Porque apesar de não teres muito tempo para mim eu ia estar por perto. Acabámos por analisar toda esta questão e foi então que comecei a ver que nós tínhamos tudo. Nós temos tudo para dar certo. Mas ninguém dá o braço a torcer. Eu não quero dar nenhum passo. Tenho imenso medo de falhar.

Quando me viste ficaste contente. Abraçaste-me e não paraste de me tentar agarrar. Prendias-te à minha cintura e disseste que gostavas do visual. E eu, parva, assustada e envergonhada, tentava fugir de ti. Tontices de teenager.Perguntaste se eu ia sair depois e eu não consegui mentir e disse que apenas tinha tido vontade de me produzir assim.

Passavas por mim e tocavas-me de leve nas costas. Ou no braço. Ou na cintura. Fazias uma pequena carícia que me mostrava que me querias.

Segui-te até outro quarto para te abraçar. Beijámo-nos e desejei-te um feliz aniversário. Foi um beijo mágico, envolvido numa bruma de desejo e cumplicidade. E saudade, muita saudade.

Quando fiz dezasseis anos ofereceram-me um postal que dizia: “Estou à espera de uma ocasião para me poder aproximar de ti. Que tal o teu aniversário?” Era nova e adorava-o, mas ele era um grande amigo e nada fiz para o conquistar. Fugi dele, até. Guardava comigo o segredo daquele amor secreto e proibido e nunca consumado.

Daí que aproveite sempre as ocasiões que a vida me dá. Convidaste-me, quiseste ver-me, para passar a ser apenas mais uma amiga ou ser apresentada como amante. Eu não sabia mas tinha de saber. Por isso fui à tua festa. Fiquei a saber histórias cúmplices e segredinhos.

Até pediste desculpa por não me poderes dar mais atenção. E eu sei que me dizias a verdade. Que querido que tu és. Nesse momento comecei a achar que o nosso affair já não era segredo e que não tinhas vergonha nem medo de mostrar às pessoas o que fazias.E cumpriste com a tua palavra.

E é isto. Desde que voltei a casa, após abandonar o brunch a meio para vos deixar conversar e falar sobre mim, que só penso em ti e analiso as minhas reacções. Não vale a pena estar com rodeios. Eu gosto de ti como homem. Atrais-me. Não és um qualquer. És um tipo com quem eu gosto de passar algum tempo. Apenas?

É que contigo não quero falhar. Sei que um dia qualquer esta relação acaba, quando um de nós conhecer outra pessoa esta brincadeira de amigos acaba. Sei também que não nos vemos muito porque tu não passas cá muito tempo. Sei também que não tenho muito tempo para partilhar. Se tentássemos alguma coisa íamos stressarmo-nos um ao outro, ia acabar em ciúme e possessividade e, pior ainda, em cobranças de afectos atrasados.

Não quero passar por isso contigo. Nós somos cool, damo-nos bem, somos livres mas estamos um com o outro. Eu não te peço mais nada e tu não me pedes mais nada, esse é o segredo desta relação. Um dia saberemos. Os dois.

Cheiro a Dor de Coração

Deitei fora a tua escova de dentes.
Minto. Não a deitei fora, simplesmente pu-la noutro lugar, pois custava-me imaginá-la a não vir a ser usada. Não a deitei fora na esperança de tu um dia vires cá jantar ou almoçar e notares a sua ausência. Talvez provocasse um terramoto em ti, talvez te magoasse veres finalmente encerrado o capítulo das nossas vidas que quiseste acabar, talvez por um segundo pensasses que te esqueci e que a minha vida continuou. Talvez te apercebesses de que querias continuar a escrever parágrafos nesse capítulo, tal como eu. Poderia então dizer-te que ainda a tenho, tirá-la do armário e dar-ta, deixar-te usá-la mais uma vez. E abraçar-te ternamente.

Mas eu não quero viver de ilusões. Sonhei tanto contigo, ainda sonho, mas não posso atrever-me a sonhar mais. Éramos dois, éramos apenas um, entendíamo-nos, davamo-nos bem, éramos muito diferentes mas estávamos em sintonia, tínhamos interesses comuns e gostávamos de estar juntos. Acima de tudo. De conversar, jantar juntos, sair, tomar café, passear um pouco, ver amigos, partilhar jogos e brincadeiras, piadas e ambições. Falávamos de sitcoms e gostávamos de contar histórias. Fazíamos amor e o sexo era uma brincadeira séria, coisa de adultos. Abraçávamo-nos ao adormecer e eu ficava deliciada a ver-te acordar.

O teu acordar. Essa luta constante contigo próprio, eheh. Como me dava gozo fazer-te festas pela cara e ver-te sorrir antes de acordares. Estavas sereno, calmo, em paz contigo próprio, como se fosses uma criança inocente e sem preocupações para além do drama de ter de abandonar a cama. Temos ritmos tão diferentes e, contudo, sabíamos fazer alguns planos e gozar da companhia um do outro. Para compensar tínhamos os nossos fins-de-semana, curtos ou longos, de um ou dois dias, com interregnos para compras, cafés e outros programas com outros amigos, mas com direito ao nosso sagrado brunch que gozávamos sem pressas nem pressões.

Desde o início que me levaste a sair contigo e com os teus amigos. E eu sentia-me lisongeada por me convidares. Por me quereres mostrar o teu mundo. Por quereres mostrar-me ao teu mundo. Daí que me custe a crer que eu tenha sido apenas mais uma namorada e não “a” namorada. Que tenhas tentado esta relação só por tentar. Nunca me senti como uma segunda hipótese. Tu querias estar comigo.

E ainda queres. Mas não sabes como. Estás tão envolvido nos teus stresses (e nos dos que te rodeiam) que já não consegues ver a beleza do que nós tínhamos. Que triste... Com essa tua teoria de que há patamares de gostar e de que os sentimentos têm de crescer durante o desenvolver de uma relação ficaste baralhado. Que se passa contigo, afinal? Ao fim destas semanas sentiste que tinhas de mudar tudo.

Foi um choque, um imprevisto, uma estalada na face, uma dor lancinante e um sentimento de incompreensão tão grande que nem sei bem explicar. Doeu. Chorei, barafustei, dormi e não queria acordar, falei, desabafei, recolhi opiniões, até liguei ao teu melhor amigo. Se alguém decidisse a tua vida por ti sem te consultar, não farias o mesmo?

Se calhar viste que as coisas lentamente se iam tornando sérias e ficaste com medo. Medo de fazer a escolha errada. Medo de fazeres uma promessa a ti próprio. Medo de decidir agora que ias ficar com esta mulher para o resto da tua vida. Como se tivesses que decidir isso agora. Como se eu te pedisse uma promessa desse tipo. Não são as relações que dependem das decisões, as decisões é que são, sim, dependentes das relações.

Se calhar não percebeste o que realmente te demonstrava ao dizer que gostava de ti. Esta minha alma de aprendiz de escritor busca alcançar o texto perfeito. O livro ideal, aquilo que vou mostrar ao mundo para o mudar. O poeta sonha... e o meu sonho é escrever umas linhas que fiquem gravadas na memória de alguém. Como tantas que ficaram gravadas na minha memória. O meu sonho é trazer as minhas emoções e impressões àqueles gostariam de viver algo diferente, vidas que não as suas. Assim penso e por isso escrevo. Gosto de falar, nasci para contar histórias...

Escrevo acima de tudo para mim. A “escrita imperfeita” é terapia, ajuda a pensar. Poder ver as idéias no papel tempos mais tarde é recordar e reviver. É compreender-me a mim própria. Por isso escrevo. Para não esquecer. Para não me perder, para continuar a saber quem sou. Para me procurar a mim mesma. É curioso, durante a nossa relação não escrevi uma única vez. Só os postais e bilhetinhos ocasionais que te deixei. Talvez tenha sido apenas falta de tempo, pois para escrever é preciso estar sozinha e ter vontade de pensar. Ou melhor, de não pensar e apenas deixar os dedos deambularem-se pelo teclado. Mas talvez tenha sido por já não andar perdida, por não precisar de me encontrar. Contigo eu era sempre eu própria, mais verdadeira do que contigo nunca cheguei a ser.

Dizia-te as coisas que te dizia para que o soubesses. Para que talvez percebesses como eu me sentia, para que sentisses o que era ser eu, como se isso fosse possível. As palavras fortes sempre te assustaram mas bem sabes que eu não precisava delas para te demonstrar como gostava de ti. Eu fazia planos, convidava-te, surpreendia-te, deixava-te com adivinhas para resolver. O gozo que era ver a tua cara de puto esperançado de volta de um brinquedo novo. Eu até cozinhava para ti...

Conosco as coisas fluíam sempre de maneira calma e natural. Sem stresses nem pressões. Tenho medo que me tenhas interpretado mal nalgumas ocasiões e te tenhas sentido pressionado. Talvez tenha influenciado a tua decisão. Nunca te quiz pressionar e gostava de ter a certeza de não o ter feito. Infelizmente não posso acreditar nisso e desejava apenas aprender a não o fazer. Talvez se tivéssemos falado sobre este assunto a relação não teria tido um final tão abrupto e frio.

Não sei o que o futuro nos reserva. Não sei o que o futuro nos reservaria, se ainda estivéssemos juntos, mas gostava que soubesses que sempre te vi no meu presente, agora, na minha realidade. Eras parte do meu mundo. E via-te no meu futuro, sempre. Sentia-o. Porque sei que contigo posso viver, sei que contigo posso ser eu mesma e posso continuar a sonhar. Sei que por ti consigo fazer concessões. Sei que não tenho medo do que sinto e de o mostrar a ti e ao resto do mundo. Esta relação tinha tudo para dar certo. “Até ao dia em que o mundo desabou...”

Demorei um bocado a perceber o que me estavas a dizer. Pensava que íamos conversar sobre nós, os nossos medos e pressões. Nem nos deste hipótese de descobrir o que estava errado conosco. Não que estivesse algo extremamente errado, mas havia algo para melhorar. Ou pelo menos para esclarecer. É apenas preciso conversar. Faz tudo parte de uma relação afectiva. Fortalece a relação. Fortalece os sentimentos do casal e ajuda os dois a crescer. Ao fugir desta etapa evitaste que os teus sentimentos crescessem. Por um lado dizes que esperavas que crescessem, por outro não os deixaste crescer. Irónico...

Se calhar já não te lembras do que é estar envolvido numa relação a sério. Daquelas da vida real, que nada têm a ver com os filmes e os livros da nossa infância. Se calhar eras muito novo quando tiveste a tua última namorada e a tua maneira de encarar o assunto congelou no tempo até hoje. Acreditavas talvez num amor ideal, perfeito e intenso como nenhum outro. Se calhar até ficaste estes anos todos à espera da tua mulher ideal. Fico feliz por teres pensado que poderia ser eu, mas fico terrivelmente triste por teres decidido que essa mulher não pode ser eu.

Tens uma visão imatura e pouco realista do que é uma relação amorosa. Tens objectivos definidos que têm de ser cumpridos. Como se de um programa de informática se tratasse. Quando na realidade a vida não é assim. “O amor tem razões que a própria razão desconhece.” É impossível categorizar uma relação. As pessoas são diferentes e não podes esperar que eu me comporte como as outras mulheres que conheceste. Que os meus medos sejam semelhantes aos delas. Que as minhas reacções signifiquem o mesmo. Não podes interpretar-me da mesma maneira. Tu também já não és esse teenager idealista que foste outrora, és uma pessoa diferente, mudada pelos anos, pelas vivências, pelos sonhos mudados e perdidos e decerto pelas muitas decepções. Não podes “ler” as tuas emoções como as lias naquele tempo. As coisas modificaram-se e já não têm nem o mesmo significado, nem a mesma importância.

“Viver é fácil, difícil é saber viver”. Parece que nos teus anos de solidão e isolamento te esqueceste do ingrediente secreto para uma relação de sucesso: saber viver com essa pessoa. Saber partilhar o dia-a-dia. Chegar a casa com vontade de partilhar os risos e os choros, os stresses e as frustrações. Chegar com um sorriso nos lábios por saber que se regressa ao porto de abrigo. Safe haven... saber que se pode contar com essa pessoa para esses momentos. Saber que não estamos sozinhos no mundo. E nós tínhamos isso, essa vontade de partilhar, essa vontade de poder esquecer os problemas em conjunto. Sabíamos que tínhamos um abraço quente e protector à nossa espera quando precisássemos. Nós sabíamos viver um com o outro, nós podíamos viver um com o outro.

Hoje em dia é tão difícil encontrar alguém com quem se possa viver. Estar apaixonado é fácil, conhecer alguém e ter uma relação carnal é muito fácil. Digo eu, que já passei por experiências várias de tipo físico, fácil e de rápido esquecimento. A paixão não chega. É preciso saber amar. Saber viver. Daí que dê tanto valor ao que nós tínhamos.

Falas-me de um sentimento que tens mas que não chega.

Sonho contigo e com o dia em que me vieres dizer que tudo não passou de um engano. Que sentiste a minha falta e percebeste o quão importante eu sou para ti. Que me queres de volta na tua vida a preencher o vazio que deixei quando me mandaste embora. E abraças-me como da primeira vez. Ou como da última vez. E eu sonho com esse teu abraço... Foi um abraço determinante, decisivo, cheio de saudade, emoção, alegria, energia, amor e sei lá que mais. Esse abraço apaixonado foi realidade, essa noite de saudade e paixão foi realidade. E não foram momentos únicos, houve muitos outros do mesmo género.

Daí que não consiga acreditar quando me dizes que nunca estiveste apaixonado por mim. Ou que não gostas de mim o suficiente. Não acredito que não sintas nada por mim pois sinto a tua voz fraquejar quando o dizes. Como se precisasses de mentir mas não soubesses como. Vi-te chorar, vi-te ficares baralhado, vi-te dares-me esperanças e destruires as minhas esperanças.

Não acredito pois sempre me trataste com amor e ternura. Foste sempre caloroso comigo e perto de mim sentias-te à vontade. Deixaste-me entrar no teu mundo, na tua vida, no teu espaço, como a poucas pessoas o permitiste. Eu sei que sou especial para ti. Importante, até. Não devias ter medo de me deixar ser importante dessa maneira. Gostar de alguém não é crime.

E também não é uma calamidade descobrir que tudo foi uma ilusão. É-me ainda difícil admitir essa possibilidade.. Mas se tiveres coragem para descobrir a fundo porquê e ter a certeza de ter tomado a decisão mais adequada, quem sou eu para duvidar? Infelizmente não me mostraste essa segurança na tua decisão...

E agora espero. Deixo-te pensar e tento não pensar. Tento voltar à minha vida de single desocupada e preencher o vazio que deixaste quando me deixaste para trás. Tento combater o sentimento de impotência que me acompanha. E tento não ouvir o que me diz o meu coração esperançado, que sonha contigo e com o porto seguro do teu abraço.

Cheiro a Despedida

Cresci ao som do Grunge e só hoje consegui perceber “Muzzle”, pois reflecte exactamente como me sinto. Como se tivesse tanto para dizer mas não me fosse permitido sequer pensar em dizê-lo. Como se quisesse gritar ao mundo o que sinto e não me saísse a voz. Como se gritar te pudesse alcançar. Como se te tivesses tornado inalcançável nestas últimas duas semanas.

Tenho uma raiva contida que espera libertar-se e temo o momento da explosão, pois posso provocar estragos irreparáveis. “Gosto de ti, porra!”, e não te quero magoar. The pen is mightier than the sword. Mas não posso deixar de te dizer como me sinto e o que acho que poderia ter sido diferente.

Sinto-me enganada. Ao despedires-te disseste que querias continuar a ver-me, a sair comigo. Pensava que fosses sentir a minha falta e que te fosses esforçar por me contactares. Na altura tinha a ilusão de que sentirias a falta da tua namorada (e não da amiga) e voltarias atrás na tua decisão... Mas de qualquer forma contava que sentisses a falta da amiga e companheira...

Vivemos algo tão intenso, puro e bonito que me custa imenso notar que tu já não estejas aqui. Aposto que também sentes a minha falta. Podes não querer estar comigo como namorada, podes não gostar de mim o suficiente para isso, mas decerto estranhas a ausência de uma presença simpática que te fazia companhia, te fazia sorrir e fazia-te sentires-te importante e bem contigo próprio. Devo ter massajado imenso o teu ego..

Sinto falta das nossas conversas, dos nossos cafés e brunches em manhãs preguiçosas, das nossas private jokes, das nossas sintonias, das nossas maneiras de pensar parecidas. Sinto falta da nossa cumplicidade.

Sinto falta do teu sorriso, verdadeiro e espontâneo, da tua voz, quente e sensual, do teu abraço, forte e seguro, do teu beijo, natural e apaixonado, da tua pele, familiar e macia, do teu cheiro a ti... Pensar que contigo dormia calma e descansada, eu que não consigo dormir com mais alguém no mesmo quarto... Ainda para mais com o teu ressonar pesado. Tu conquistaste-me para ti para depois me destituires do meu trono...

Falavas-me de confiança mas foste tu quem me atraiçoaste. Fizeste-me combater os meus velhos fantasmas, superar esses medos e permitir-me a mim própria confiar em ti. E fi-lo. Por amor, talvez. Confiei em ti pois acreditava no que sentia, acreditava no que tu sentias e ainda acreditava em nós. Sabia como tínhamos a ver um com o outro, sabia que gostávamos de estar juntos e saberíamos viver juntos, sabia que não desaparecerias de um dia para o outro, sabia que ias estar sempre a meu lado. E sentia que conhecia todas as verdades do Mundo...

Como me enganei. De um dia para o outro desapareceste mesmo. E nunca suspeitei do que iria acontecer pois acreditava em nós. Era tua e confiava em ti para tratares de mim. Se calhar ainda acredito nalguma coisa. Mas já não serei capaz de confiar.

Cheiro a Águas Furtadas

Acordo e vejo uma cortina envelhecida a revestir uma janela antiga com bordos a apodrecer. É uma água-furtada, como tantas que sempre amei e sempre aspirei a ter, e está no coração da cidade, onde tudo acontece e os documentos se perdem e são reencontrados.

D. dorme. Mexe-se e dou por mim a pensar como só encontro gente com estranhas maneiras de dormir, estranhos vícios. Faz ruídos estranhos e nem se apercebe de que estou encostada a si. Relembro a noite anterior e imagino o dia que me espera. O peso de um possível arrependimento a pairar no ar.

Era uma festa temática, ao som de contos da fada. Fui de sapo. Vestida em verde-tropa da cabeça aos pés, pintei a cara e os cabelos de verde e desenhei uns olhos e uns lábios enormes. A história por detrás do costume? Esta menina-sapo tinha sido beijada, mas como em muitas histórias de amor e enganos, o amor não era verdadeiro e a transformação em princesa não se tinha dado por completo.

Estávamos agarrados no corredor, arrastei-o até ao quarto da flatmate e trancámo-nos lá dentro. Fechar a porta à chave parecia ser a ordem do dia, era moda ver gente a sair de quartos com ar de réu. O que sei é que o beijo prometia... Chegámos a casa e continuámos a história que horas antes tinha ficado interrompida, e deixámo-nos adormecer nos braços um do outro. Acordámos horas mais tarde para passar uma tarde preguiçosa na cama, por entre o despe, toca, fode, conversa, veste, despe, toca, etc. Tenho um sorriso melancólico quando relembro ver as curvas e sombras de dois corpos despidos, deitados lado a lado, qual quadro. Relembro as mãos que acompanhavam essas curvas: braços, cintura, ancas, coxas... Lembro-me de um Adónis bem constituído, repleto de músculos trabalhados e evidentes. Lembro-me de um pescoço elegante mais elevado do que o meu. De uns olhos pestanudos, de umas mãos grandes, de um sorriso suave...


Às vezes é bom deixar a maluca da realidade que nos assola mostrar-nos a verdadeira realidade que atrás de si se esconde.

Cheiro a Armani

Aquele ombro. Sinto a claridade da manhã entrar no quarto e deixo-me acordar. A meu lado o ombro, aquele ombro. Os contornos daquele ombro.

A dança é sedução, a dança do ombro. A pista de dança foi o meio de seduzir até mais não aguentar e ter de fugir para casa. Havia toques subreptícios, olhares, palavras, sei lá que mais... Dançar é quase fazer amor.

E em seguida observo os braços, simples e quase nús, escondendo os tímidos músculos que se revelariam apenas mais tarde. Uma mistura de recordações e emoções apodera-se de mim.

Abraçados no sofá, pele nua envolvida por um cobertor, e a lareira acesa. Uma lagarta. Acolhedor, romântico, até.

A sua pele macia, o seu cheiro acriançado e terno, doce e suave, disfarçado por baixo de um Armani. Como passaria dias em seu redor.

E recordo. E penso acordá-lo e persuadi-lo a relembrar-me daquela madrugada chuvosa.

Cheiro a Histórias de Encantar

Música lamecha... Boy meets girl, they fall in love… Um amor impossível, improvável, impraticável, mas ainda assim aquele amor com que todas sonhamos desde que neste mundo estamos.. Até o mais forte feminismo não consegue negar esta esperança tão comum ao ser feminino, esta herança que se obteve de mães, avós, primas, tias, madrinhas, das Brancas de Neve dos livros da nossa infância, das Barbies com que brincamos e das Marianas da televisão...

Aquele amor que vive do que não foi dito e não ficou por dizer.. Feito de momentos e magia, de química e ambiente, de velas e poemas, de perfumes e odores, de sons e cores... de... de... aquele amor que existe por si só e em si se encerra e se alimenta, que cresce e se desenvolve à sombra de um momento que há de vir.... aquele olhar, aquele movimento, aquele sorrir... a linguagem corporal como veículo de transporte até um objectivo apenas...

Possivelmente um amor carnal, hormonal, apaixonante, de entrega, volúpia, energia e poder.. de subjugar e ser subjugado, de vencer e deixar-se ser vencido...um jogo de interesses, um comércio de pseudo-emoções vividas intensamente e momentos depois desvanecidas... de promessas perdidas no ar... uma história que passa a ser muito nossa, um segredo, um doce, uma recordação...

Ou um amor verdadeiro, quente, meigo, calmo, sereno, tão puro de quase virginal... um dar que é mais que receber, um sonhar a dois, uma alma em dois corpos... será?? Será possível viver algo belo assim, após coleccionar erros e decepções?.. Felizes os que souberam preservar o amor da juventude, duma altura em que ainda éramos puros de espírito e sonhar era mais importante que viver...

E agora... agora que me sinto só, que escolhi estar só... Que busco eu? Por entre o que vou vivendo, por entre os momentos em que sigo o lema Carpe Diem... Que espero encontrar? Certamente a magia de um olhar, um entendimento especial.. Aquele serpentear dos ombros que me há de guiar.. O criar de uma linguagem nova, sem receios nem tabus... sem limites nem pressões... sem ilusões... viver no presente.. registá-lo para o melhor recordar... um affair, um reunir de momentos... um desprender dos clichés e das regras que impusemos a nós próprios...