Monday, December 8, 2008

Cheiro a Olhar Penetrante

No início evitava o teu olhar.
Não conseguia olhar para os teus olhos e manter fixo esse meu olhar, parecia que o teu me queimava a pele e os olhos ardiam-me instantaneamente.

Agora olho para ti. Para os teus olhos. Directamente. Sem fugas. Sem queimaduras.
Também tu já não desvias o olhar. E ficamos assim, presos ao olhar um do outro, durante o que parecem ser minutos, horas, mas não passam de meros segundos intemporais.

Fixo os teus olhos claros e sinto-me sorrir. E sinto-te sorrir. E ficamos assim, quase estáticos, a olhar um para o outro, sem saber o que dizer, sem querer dizer nada, apenas a olhar.

Um olhar delicioso... A cada olhar que passa mais terno se torna. Maior é o sorriso. Maior é o ardor que sinto no estômago quando te vejo. Maior é a magia que nos envolve.

Nesses momentos dizem-se disparates, fala-se de coisas insignificantes. Só para poder olhar mais um bocadinho.

Thursday, November 13, 2008

Cheiro a Placebo revisited

Foi inesperado.
Foi planeado, é certo, dirias que era previsível, e até concordo, mas não imaginava ser assim. Acima de tudo, a presença, a meiguice, a intensidade da coisa. Tu estavas ali, comigo e eu estava lá, também, contigo. Nessa noite fomos tudo um para o outro. Senti que o fomos. Desde as conversas que tivémos sobre os mais variados temas, a flirts no bar, a um beijo na varanda, a pernas entrelaçadas no sofá... Parecíamos teenagers. 17 anos e a descoberta um do outro. Que giro foi.
Duas semanas antes tinhamos tido uma conversa escaldante, puseste-nos em contexto de sexo. Assim, sem mais nem menos, sem rodeios. Afinal, para quê os rodeios depois daquela noite intemporal em que ambos queríamos estar juntos? Deixaste-me de rastos, completamente perdida, chocada e, pior, a desejar saber do que falavas. Curiosérrima. Isso não se faz :S.
Houve um dia em que me perguntaste quando eu voltaria a essa cidade. Tinhas receio de nos desencontrarmos, uma vez que ias ausentar-te num destes fins-de-semana. Achei querido teres pensado nisso. Depois voltaste aos teus dramas e à tua rotina e à tua neura, e refugiaste-te novamente por detrás dos “talvez”es, “não sei” e “não sou a melhor companhia”. Mas já sei como és. E sei que se quiseres, tu consegues. E fazes. Sei que não tens medo de dar passos em frente.
Na semana anterior disse-te, a jeito de provocação, a ver se te tirava daquele marasmo: “Afinal fico até sábado, tens mais um dia para me desprezar”. “Parva! Tenho é mais 24h para encontrar uma boa onda para surfarmos juntos”. E dois abracinhos. Surpreendeste-me tanto com essa conversa que até hoje ainda não te soube responder. Querido. Carinhoso. Terno. Educado. Sou capaz de encontrar adjectivos para qualificar o “gesto”, mas quanto ao resto... sei lá que mais!
No fim-de-semana anterior trocámos conversas e mensagens. Afinal o jantar de domingo passava para segunda “se a boa onda se mantive[sse]”.”um brinde às boas ondas!” Vens sempre bem disposto de um passeio, de uma volta. Vês como precisas de contacto humano, de distracção?
Passámos a segunda-feira toda sem nos comunicarmos. Ouvi dizer que íamos sair (como o mundo é pequeno e tudo se descobre!), que contavas sair comigo, mas como não tinhas dito nada mandei-te uma sms a perguntar como estavas. Ligaste-me logo a dizer que vinhas ter a minha casa, que esperavas por mim à porta, no carro, a ouvir música. (Que voz quente e segura...) Que não te importavas de esperar. Que até esperavas que eu me despachasse, etc. Não te importavas. São gestos valiosos, momentos preciosos, esses, em que me deste um pouco de ti.
Ainda tentaste mandar uma boca indecente, um convite provocante. Viste-me qual barata tonta, desorientadíssima, à procura do caminho para o duche, sabendo-te ali, aqui, tão perto. À espera. Detesto deixar as pessoas à espera. E estava nervosa por estares ali. “Queres que eu vá contigo?”. A frase atropelou-se por entre outras frases e fingi não a ter ouvido. Na realidade, apetecia-me dizer “sim”, mas não sabia o que fazer e calei-me.
Fomos jantar fora a um vegetariano que dizes adorar. Giro, caricato, íntimo. Escolheste sentarmo-nos lá dentro porque era mais “íntimo”. Gostei. A comida era excelente, o ambiente óptimo e a companhia não podia ser melhor. Em redor do restaurante um mini-jardinzito, umas pausas no caminho, uns olhares parados no longínquo, nas águas da fonte, à procura dos sapos nos nenúfares, e o desejo de um toque, de um abraço, de um sinal.
Tens a mania que não me consegues surpreender e parece que passas a vida a tentar. Dizes que sou muito culta, e uma cidadã do mundo, e passas a vida a mostrar-me detalhes do mundo que eu muitas vezes já conheço. É giro vê-lo. Gosto de notar que sou um pequeno desafio para ti. Mas estás enganado, já me surpreendeste tanto, e em tão pouco tempo, que nem sei explicar...
Levaste-me a um bar marroquino, continuando a nossa onda árabe. Falámos de tudo, rimo-nos de nós próprios e das imagens que há de nós. Bebemos uns copos e fomo-nos logo embora. Não era ali que a noite devia continuar. Apesar de não termos falado no assunto, depreendi que vinhas para casa comigo. Estava nas entrelinhas das conversas passadas, mas ainda assim, com tantos “se”s no ar, não havia certezas. Mesmo ao chegar aqui a casa mandei-te uma boca, evitando o constrangimento à chegada, à porta. “Estás bêbado, não devias continuar a guiar agora”. “Não, não estou, mas também não, não vou”.
Fomos para a varanda, como da outra vez. “Há quanto tempo já não vinha cá?”, perguntaste. “Há três meses”. “Passou tanto tempo assim?”. Pois. Três meses de expectativas., de altos e baixos, de bocas e emoções. Como tudo na vida. Uma salada russa de sabores.
Dei uma volta pela casa e quando voltei à varanda: “Miúda, tu ÉS boa onda”. Eu SOU boa onda. Só precisas de te aproximar de mim para estar numa boa onda. Que elogio. Senti-o logo na pele, arrepiada, no coração, acelerado, na voz, fraca e nos passos que dei e no abraço com que te envolvi e te beijei.
Abancámos no sofá e ficámos montes de tempo à conversa, feitos teenagers encantados à descoberta de si próprios. Braços por cima, pernas entrelaçadas, umas festinhas de leve, na mão, no braço, na perna, no cabelo. Um beijo aqui, outro acoli, e muita conversa. Falámos de tudo, sobretudo de relações passadas. Sobretudo tuas, que me quiseste contar... Pedacinhos de ti.
O que se seguiu foi o esperado. Mais mimos, mais olhares, mais toques, mais carícias, mais suspiros e uns gemidos... abraços imperdíveis. Tive a sensação de estar num local conhecido. Como se isto já tivesse acontecido antes. Aquela sensação de querer estar ali. Mais do que isso: de saber que era ali que devia estar...
À saída daqui de casa voltaste à porta para me dar um beijo na face. Molhado, quase. Quente. Daqueles gestos carinhosos que normalmente não ocorrem num affair. O que mostra que nos sentimo próximos um do outro.
Em suma: senti-me presente. Estavas ali para mim e eu para ti. Acarinhada. Tanto mimo... Desejada. Que olhares! Que toques... Senti-me, numa palavra, viva.
Vem cá ter comigo. Quero rever o teu abraço. Sentir-me novamente protegida. Sentir o teu calor. Respirar o teu cheiro. Ouvir a tua voz. Ver esse sorriso malandro. Deixar-me embalar pela nossa boa onda e ver que descobertas mais podemos fazer juntos. Até ao infinito!

Thursday, September 18, 2008

Cheiro a Indie Rock Revisited

Sand everywhere.

Ando descalça pelo apartamento e ainda sinto a areia sob os pés. Daqui a nada tenho de ir, voltar à minha vidinha, e uma aspiradela a dar.

Foi uma loucura. Ou duas. Mais, até. Uma noite fluida, quente, suave, mágica. Foi uma onda em que nos encontrámos. Esta noite dormi pouco e mal, pensei imenso em ti e queria ter-te ainda a meu lado.


he big F word: financing”. Desafiaram-me a meter conversa contigo, o que até foi fácil de fazer. Tens a barba, as suissinhas, um olhão azul e um sorriso lindo. Tímido, simpático, quase unilateral. Super simpático. Um charme. Lindo de morrer.

Mas no dia seguinte estavas rodeado de colegas e fâs e mal nos falámos. Se bem que uma vez cruzamos olhares e quando desviaste o teu olhar sorriste sozinho. Esse gesto reflexo tão terno... Apesar dos abutres que te rodeavam consegui convidar-te para para o concerto de ontem, dei-te o meu cartão, disse-te para me mandares uma sms e fiquei com esperança de te encontrar no Campo. Para uma caipirinha especial.

Entretanto, saíste cedo de um jantar a que afinal não fui, mas eu apareci noutro jantar a que não ia. E sorriste e açenaste imenso quando me viste, eu que nem dava por ti. Quando passei pela tua mesa levantaste-te logo pra me perguntar se sempre havia concerto e nós íamos sair. Prometeste juntares-te a nós e assim foi, quando a malta da tua mesa dele se foi embora.


Fomos os dois no carro, sozinhos. “D’you mind if I take a look at the CDs?”. Go ahead”. Entraste em parafuso quando leste Bloc Party e pediste logo para ouvir. E Franz Ferdinand. E Maxïmo Park. Aquelas músicas que vivi noutro tempo, noutra vida, que me recordam uma outra cidade medieval, das festas Indie-Rock a que ia (quase) contrariada, de noites que eram diferentes, de um tempo em que me sentia mais estudante do que agora. E que agora têm mais memórias associadas. Contaste que não ouvias deste tipo de música desde que chegaste, e que nesses dias tinhas tido imensas saudades!... E nós a percorrer a marginal com vidros abertos e a cantar com a música aos altos berros? Priceless...

Quando estacionámos disseste "este momento foi muito inesperado. Não contava nada que também ouvisses as minhas coisas. I’m sorry if I seem hysterical, but I’m really, really happy. Agora nem me apetecia sair do carro". Me neither...


Independentemente da vontade, fomos ter com os outros colegas ao Campo.

Aos poucos foram-nos abandonando e ainda apanhámos um bocadinho do final do espectáculo.

Durante as últimas músicas do concerto e o fogo de artifício notei que estavas bem mais próximo de mim. “Foi o final perfeito para estes dias de trabalho: música, copos e um fogo de artifício lindíssimo numa noite bonita”, disseste. “E a companhia?”. Mmm. “Ah, a companhia, claro, e a dica de virmos até aqui, mas isso eu estava a guardar para dizer mais tarde”. I should’ve kissed you right then.


Ocorreu momentos mais tarde. Num momento qualquer que não sei precisar, a propósito não sei bem de quê. Houve um olhar profundo e eu beijei-te. Assim, sem mais nem menos. Meti tanto de mim naquele beijo, e tu não me soubeste recusar. Depois ainda brinquei contigo: “sempre quiz saber o que é beijar um tipo que está a fumar charuto”. Nada demais. O charuto, digo, que o beijo... mmm... Tens uns lábios carnudos, macios, suaves, gordos. Irresistíveis. Quiz beijar-te ainda mais. E beijámo-nos imenso, imenso... Simples, suave, foi tudo.

Depois de ouvirmos mais um pouco de música desafiaste-me: “Para a praia?” Eram 2h da manhã. Uma noite de céu estrelado, mas nublado, e uma lua cheia a decorar a noite. E estava calor. Horas antes, tinha-te falado na hipótese de irmos até lá de passio e certamente ficaste curioso.

Fomos. Agarrei na tua mão, deste-me os teus dedos a entrelaçar, e fomos até ao carro. Chegados lá, seguiste-me para o meu lado e, quando eu ia a dizer ”hey, it’s not Britain anymore!” agarraste-me pela cintura e beijaste-me novamente. Com mais força e mais ternura do que antes. E os beijos que se seguiram mais ainda. Eu só ouvia os carros passarem por nós e não sei quanto tempo ali estivémos. O carro, que tinha acabado de ser aberto, até se fechou automaticamente.

Deviam ser umas 2h da manhã quando fomos para a Praia Pequena. A noite estava óptima, quente, nem parecia meio de Setembro. A lua redonda, grande, a noite clara. Algumas estrelas. Algumas nuvens. E o mar batido. Ainda assim, quiseste viver este local plenamente e convenceste-me a entrar na água. Em lingerie. Desirmanada, ainda por cima, que eu não estava preparada para flirts nem para banhos nocturnos.

Uma grande loucura! Senti-me teenager, como se tivesse os teus 20 anos. Via-te sorrir e deixava-me embalar por esse sorriso. E pelos momentos em que estávamos próximos, e o teu olhar congelava, fixava-se num ponto, nos meus lábios, e estendias os braços e puxavas-me para ti. As mãos na água, em água.


Eu só tinha uma mísera toalha e ficámos praticamente encharcados. E com frio. Viemos para baixo, para a minha casa, para um duche quente. A dois. Quente, terno, suave. Mãos, água, gel e nós. “You have lovely ...”. Risos. Que se responde a isso? “Really, love them”.

Cansei-me da água nos olhos, que me fazia chorar, e arrastei-te para o meu quarto. Foi giro. Foi um misto de pedidos e ordens, desejos e conversas mais picantes. Foi mesmo booom. Ainda ficámos um bom bocado na cama a conversar e decidimos depois que eu te ia levar. “Que pena não ter havido um concerto mais cedo nestes dias do fórum. It would have been nice to sleep with you one night”. It certainly would

Ao descer para o carro trauteei uma música dos MP que tínhamos ouvido antes. Ficara no ouvido! Ele cantou comigo e pu-la a tocar assim que entrámos no carro. Ficámos em silêncio. “I bet you’ve made some new memories to that song”. Sim, sem dúvida. “I’m sure I have”.

E com estas doçuras me desarmavas. Me desarmaste. Muito terno. Muito real. Muito quente. Muito elegante. Muito delicado. Muito terno. Um momento. Um grande momento. A real moment.


It was really nice to meet you”, ao que respondi “I hope we meet up again at some point”. Para rever aqueles olhos e aquele sorriso.

Wednesday, September 3, 2008

Cheiro a Parvoíces

Eu podia ter ido ter contigo mesmo antes de partires.. eu podia ter feito uma data de coisas por ti, mas não me deixaste. Ainda assim, após tanta nega e tamanha ausência ainda estava disposta a passar a noite em claro. E acordei cedíssimo só para enviar uma sms.. Parvoíces.

Meias-palavras e entrelinhas são giras, bem sabes como gosto delas, de brincar com os termos e moldar às frases às minhas necessidades. Dizer nada mas estar lá tudo, ou falar tudo nem nada dizer, mas às vezes essas dubiosidades não são suficientes. Nesses dias não o foram e agora também não me chegam. Se calhar com um abraço tudo teria sido diferente...

Sei que andaste super ocupado e que vieste com objectivos profissionais. Por isso estive disponível o mais que pude, e tentei sempre dizer-to, para que o soubesses, para também eu sentir que fazia alguma coisa por nós, para nunca me arrepender do que não fizesse, e quantas mensagens foram!, para que me avisasses de quaisquer 5 minutos que pudesse haver, no matter when or where or how...

Tinha tantos planos.. Para passeios não ia dar, certamente, nem jantares fora nem serões fora de casa. Mas haveria os jantares em casa, ou pelo menos os serões em casa. Um café a meio da tarde? Uma boleia de carro? Tantas hipóteses no papel e nenhuma concretizada. Havia filmes, montes de livros e imensas conversas a haver. Queria contar-te tanta coisa, mostrar-te tanto... este meu mundinho a cores e a preto e branco.

Ainda assim, nem sim nem sopas. Nem te decides e queres mesmo, nem deixas de querer. “Promessas perdidas escritas no ar”... E eu à espera. Qual teenager, mesmo à beira do telefone. Sempre à espreita, sempre à tua procura. E isso não mata, mas mói... E dói...

Foste um idiota. E eu uma parva. Por acreditar.


Sunday, August 31, 2008

Cheiro a Tutti Frutti

Não sou muito fã de Tutti Frutti. Aquilo é sempre uma misturada de coisas e nunca se sabe bem o que vai lá estar. Mais morango? Mais kiwi? Mais banana? Fresca ou madura? O Tutti Frutti mais doce ou mais ácido? As peças mais rijas ou mais tenras?

Pior que salada de frutas ainda são as coisas com aroma a Tutti Frutti. Gelatina. Gelado. Iogurtes. Como é que se define o Tutti Frutti? Como é que pode haver apenas UM aroma? Para mim o Tutti Frutti é uma miscalânea de coisas, uma surpresa, uma alegria, uma decepção ou apenas mais um tutti frutti...

Quando me sentei aqui não sabia que nome dar a este post. Nasceu num dia qualquer à noite, num concerto, num momento triste, em que a música envolvente se apoderou de mim e me fez sorrir. Sorriu-me, embalou-me, envolveu-me de tal forma que abandonei aquela tristeza e entreguei-me.

Pensei em mim, em ti, e em ti, e em ti. Nalguns "ti"s que anda(ra)m por aí. Houve uma altura em que eram cinco "ti"s. Um mais novo, um mais velho e um mais baixo. Um longe e outro mais longe ainda. Todos diferentes: eles, os flirts, as conversas, as partilhas.

A dada altura sobressaiu um. Destacou-se dos outros porque.. bem, não sei dizer porquê. Porque sim. Eu até nem lhe estava a dar muita importância, as coisas à distância são o que são e não podem ser mais do que isso. Mas houve um momento. E outro momento. E outro. E como a vida é feita de momentos, um dia notei que já havia uma manta de retalhos de momentos. De repente, era óbvio, tinha de ser. Eu não escolhi assim. Eu não te escolhi.

Estava triste porque não te conseguia encontrar. O poder daquela música foi tal, que o esqueci e desejei partilhar aquele momento especial com alguém especial. Ainda bem que estava rodeada pelos alguéns muito especiais que me arrastaram para ali.

A magia da música propicia aos pensamentos em catadupa e quando dei por mim assistia à minha vida, como a um filme. Momentos... Muitos, muitos estranhos, muitos envolventos, imensos intensos. Colecciono-os. Aos momentos.

Wednesday, August 6, 2008

Cheiro a Apprivoiser

Num domingo qualquer, igual a tantos outros domingos, senti a tua falta.

De um momento para o outro, não estavas lá, nem era suposto estares, mas eu desejei que estivesses. Fiquei intrigada.

Seguiram-se conversas próximas, íntimas, envolventes. Maravilhosas. Aquele tipo de sintonia que sempre desejei ter. E que não desejei ter contigo. Contigo apenas aconteceu.

Tudo isto foi overwhelming, um choque, até. De repente precisava de saber que estavas bem. De repente preocupava-me contigo. De repente suspirava por ti. Por uma atenção, por um carinho.

Pensando bem, foi tudo devagarinho. Apareceste de surpresa com anos de hitórias a recuperar. Trazias uma energia contagiante e irresistível. Deixei-te entrar na minha vida, aos bocadinhos, com passinhos pequeninos e inocentes e agora preciso de ti. De repente senti que precisava de ti. Preciso da tua companhia, adoro as nossas conversas, às vezes só preciso de sentir que estás aí, perto, em sintonia. E se dizes que pensaste em mim.. delicia!

Quero ver-te. Quero estar contigo. As texturas, os cheiros e em tempo real.

Je me suis apprivoisée.



“Qu’est-ce que signifie “apprivoiser”?

C’est une chose trop oubliée, dit le renard. Ça signifie créer des liens...

Créer des liens?

Bien sûr, dit le renard. Tu n’es pas encore pour moi qu’un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n’ai pas besoin de toi. Et tu n’as pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu’un renard semblable à cent mille renards.

Mais, si tu m’apprivoises, nous aurons besoin l’un de l’autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde...”

              Saint-Exupéry, Le petit prince

Monday, August 4, 2008

Cheiro a meio de Verão

Chegou e apoderou-se. Uma explosão de luz, calor, esperança e mar, muito mar...
Banhos, cafés, chats e conversas...

Foi chegando, assim, de mansinho, tanto que nem dei por ele.
Por mim continuava no início do Verão. Passava o ano inteiro no início de Verão, com todas as esperanças, todas as promessas, as horas por viver, as viagens planeadas e ainda não canceladas, as amizades novas.

Mas, de repente - nunca é verdadeiramente "de repente", existe uma percepção, uma suspeita, talvez até uma falta de atenção - de repente, aí estava ele e inundava-me a casa com o seu calor e a sua energia.

É tempo de viver novamente.
As emoções, as cores, os aromas, as recordações, as peles.

Friday, July 4, 2008

Cheiro a Primeiro Abraço - 13 anos depois

És a minha musa inspiradora. Sempre que venho de um encontro contigo que me sinto assim, leve e sonhadora, cheia de idéias e mil palavras para escrever. Como agora. Um turbilhão de sensações, mil cores e tonalidades que penetram a minha alma e se apoderam de mim. Não descanso até me poder sentar ao laptop e transformá-las nisto. Um texto que reflicta o que sinto. Que perpetue para sempre a importância que este momento teve para mim, que alimente a minha memória de ti. Porque és importante. Porque és especial. Porque és único. E porque às vezes tenho a sensação de que estou à TUA espera.

És uma fonte de inspiração. Só agora me apercebi disso e acho que há muitos anos que o és. Quando ouço a tua voz fico feliz, sinto-me segura. Quando te vejo sinto-me em paz, sinto-me livre, sinto-me EU. Tens o dom de me fazer encontrar-me a mim própria. Mas esta não é a primeira carta que te escrevo. Algo me diz que esta vais ler, talvez em breve.

Cometi um erro muito grave contigo: menosprezei o teu interesse em me voltares a ver depois de anos de cumplicidade overseas, desprezei uma promessa tua e omiti-te um facto. Senti-me consumida pela culpa durante largos anos e hoje em dia apenas consigo pensar nisso porque finalmente somos amigos. Não sei o que pensas sobre o assunto mas espero um dia poder compensar-te e que me possas perdoar.

Quando tu reapareceste eu estava à espera de te encontrar diferente. Escrevi estas linhas há anos e ainda hoje tinha o mesmo receio. Ia ver-te ao fim de um ano, talvez dois. Estava já desanimada há uns tempos por não te conseguir contactar, e o dia dos teus anos não foi excepção. Lembro-me de sentir uma grande tristeza ao perceber que aquele número já não era teu. E com essa tua alma de borboleta já poderias estar em qualquer parte do Mundo. Por um segundo senti que te perdera para sempre... Daí que tenha sido uma surpresa enorme quando me ligaste. Fiquei alegre, contente e até ouso dizer, feliz! Ia ver-te... Tinha um burburinho na barriga, um leve sorriso nos olhos e muita vontade de sonhar. E escrever.

Hoje não foi um encontro diferente e pude ver que tu não mudaste nada. O tempo passou por ti e deixou-te com alguns cabelos grisalhos charmosos, a vida magoou-te e deixou-te rugas de personalidade, tornaste-te menos rebelde e assumiste uma postura (mais) respeitável no mercado de trabalho. Mas o teu sorriso é o mesmo. Singelo, livre, puro. E manténs o teu sentido de humor mordaz, a primeira coisa que vi em ti há 13 anos atrás.

És a (outra) borboleta da minha vida: leve, livre, sonhadora, voas por esse mundo fora e lá de vez em quando vens mostrar a tua elegância e cativar a minha atenção. Sei que nunca te tenho por muito tempo, mas preenches-me a alma de tal maneira que sei deixar-te partir. Tu vais, e lá de vez em quando voltas.

O nosso percurso é feito de encontros e desencontros, migrações e viagens, cafés, cinemas, serões e as horas antes de ir para o aeroporto. Antes de eu partir, antes de tu trabalhares. As voltas que a vida dá. Sai um de uma relação, entra o outro noutra. A vida é assim, prega-nos partidas. Preciso melhorar os meus timings e aparecer na tua vida numa altura em que estejas livre e bem, e eu te consiga arrebatar e aprivoiser. Como a raposa e o Principezinho. Faço mil planos, imagino muitas conversas e prevejo olhares. E muitos serões no sofá...

Thursday, July 3, 2008

Cheiro a Primeiro Abraço - 10 anos depois

Cheguei há pouco mais de uma hora e já me apetece escrever-te. Escrever-TE. Porquê, não o sei dizer. Busco a resposta em mim e não a vejo. Confesso que tenho medo de a encontrar... Uma história é um tesouro. Tê-la, guardá-la, lembrá-la, são momentos revividos, sonhados, recontados e reanalisados. É ver tudo novamente com aqueles olhos, é crescer novamente, e novamente sonhar...

Tu apareceste e fizeste-me viajar no tempo. Não fui apenas atrás de um sonho de verão, de um carinho mantido à distância, mas fui reencontrar a minha inocência perdida. A minha alma jovem que era pura e livre. Livre pois não se deixava manchar, pura pois não tentava conquistar a liberdade dos outros.

E desde então tanto tempo passou, tanto vivi, tantos erros cometi. Sofri, chorei, esperneei, mas também sorri, vivi, sonhei... Mas o sonho foi-se desfazendo lentamente, e a busca da pedra filosofal tornou-se mais difícil, o amor cada vez mais inacessível. E porquê? Porque a vontade de o encontrar era tão grande que o via onde ele não existia, fazia-o surgir onde queria que ele aparecesse. Resultado: iludi-me, fiz sofrer e comecei a duvidar de mim. Cada amigo novo que tinha era encarado como uma hipótese, cada sorriso e cada olhar analisados, e quantas interpretações erradas não terei feito? Cada uma delas a contribuir para o aumento da descrença em mim própria. Fui-me tornando fútil e, de certa forma, vazia...

Quando tu reapareceste eu estava à espera de te encontrar diferente. Como? Sei lá, só sei que todos mudamos e talvez não te fosse reconhecer. Mas não, estava redondamente enganada. Tu apareceste simples e livre, relaxado e leve, o jovem perspicaz e autónomo por quem me apaixonei. Já lá vão dez anos mas és das pessoas que mais marcaram a minha existência. Agora percebo porquê, na altura talvez não o soubesse classificar. Contigo sentia-me livre. Livre de ser quem era. Sem medos, tabus, barreiras, sem inibições. Foste a primeira pessoa a fazer-me sentir assim e por isso nunca serás esquecido. Passávamos tempo juntos pois gostávamos da companhia um do outro, gostávamos de conversar. Mais tarde as coisas mudaram, passei a estar com alguém por querer companhia, ou por ele querer a minha companhia. As razões erradas, como podes ver... Passei a ter a preocupação de me manter interessante para a outra pessoa. Como se isso fosse preciso entre duas pessoas que gostam uma da outra...

Rever em ti, hoje, aquele jovem de 94 foi encontrar de novo em mim a Eva desse tempo. E dela tinha algumas saudades. O engraçado é que ela despertou em mim! Há novamente esta maneira fluida de falar, esta desinibição na escrita, há muito limitada, há muito constrangida. Ela voltou ao de cima e fez-me ver como tenho estado enganada. Fez-me ver o quão simples as coisas são e quão bela a vida é. E ver que é impossível permitir que as pressões que me rodeiam a adormeçam outra vez.

Neste momento queria agradecer-te, mas isto não são coisas que se agradeçam. Posso dizer-te, contudo, que estou muito contente por teres reentrado na minha vida. Que quero manter-te por perto, ser tua amiga como já o fui, pois és alguém especial com quem me sinto mais perto de mim própria. Será que me faço entender?

Da maneira que escrevo parece que deixo mensagens nas entrelinhas... será? Como já te disse, não acredito no acaso: tudo tem o seu tempo, o seu lugar e o seu porquê de acontecer. O futuro manifesta-se a seu tempo, e seria teimosia minha apressá-lo ou questioná-lo. Como já foste importante um dia, podes sê-lo novamente. O que sei é que desta vez não te posso perder. Os erros do passado ensinaram-me, e os remorsos corroeram-me durante anos... Podes não ser mais nada para além disso, mas meu amigo hás-de continuar a ser... É a segunda vez que deixas magia no meu ser e isso não quero perder. Quero passar os próximos trinta anos a trocar impressões contigo: juntos, a 2000 Km, via net, via telefone, como?, porquê?, sobre o quê?... isso não interessa nada...

Wednesday, July 2, 2008

Cheiro a Primeiro Abraço - 2 anos depois

Às vezes é difícil lembrar

O que não se esquece,

E é certo que o que se esquece

É impossível de lembrar.

(lembras-te de mim?)


Tuesday, July 1, 2008

Cheiro a Lua de Verão

Rendi-me a Placebo há um ano atrás. Fiz duas viagens de 2 horas no mesmo dia para ir de propósito ver Pearl Jam a um festival situado em cascos de rolha. O concerto foi o que sempre esperei, eles não mudaram rigorosamente nada, mas na realidade foi a banda que tocou antes deles que me fez vibrar, querer pular e ser teenager novamente para os poder ouvir melhor. Saí do concerto rendida, uma fã quase incondicional, e, dada a energia que me transmitem e a envolvência que promovem, são até hoje os meus companheiros das grandes viagens.

Surgiu agora uma nova recordação ao som de Placebo. Olhaste para os meus CDs e escolheste aquele. Eu procurava um mais calminho, para um clima mais soft, afinal a noite estava a ser intemporal, mas tu escolheste aquele e fomos para a varanda beber uma cerveja. A noite era quente, o Verão já prometia e observámos um fenómeno raro da Natureza. A Lua subia atrasada, às 2h da manhã apenas, enorme, vermelha, inchada de orgulho. Um contraste enorme sobre as dezenas de luzes amarelas circundantes. Foram momentos rápidos e impressionantes, nunca tinha visto algo do género. E tu ensinaste-me umas coisas sobre os astros, que tanto admiras, partilhando comigo aquele momento que se calhar era só teu.

Ao fim da noite, quando viste os meus livros e te lembraste que eu era uma devoradora deles perguntaste-me se eu também escrevia. Cá estou eu... Parece instintivo, tinha de escrever sobre as horas que passámos juntos. Foram especiais, foram reais, foram verdadeiras. Eu fui eu e tu foste tu. Fiéis. E queríamos estar ali. Com as mazelas que ambos temos, mas ainda assim fomos que somos, quem outrora fomos. E pensar que nunca fomos “alguém” um para outro e, no entanto, fomo-lo nesta noite que passou.

Foram 7h, foi quase um dia... Mais parecia um leve múrmurio. Encontrámo-nos ao fim da tarde e obriguei-te a andares a pé comigo.

Foi tudo uma agradável surpresa. Toques [aqui parei para suspirar quando me lembrei de me teres agarrado pela cintura à saída do restaurante], olhares, piadas, coisas de amigos, de compinchas, recordações daqueles tempos despreocupados... A conversa fluía e o ambiente era relaxado e casual. Estávamos mesmo bem ali, juntos, e parecia que a noite não ia ter fim. Depois do jantar propuseste um copo, depois do copo perguntaste o que eu queria fazer e assim...

Sunday, June 22, 2008

Cheiro a Pele Morna

Era um braço morno, macio, convidativo.
Senti-te assim, de leve, quase sem querer. Foi por acaso, pareceu um suave murmurar. Como se a tua pele me quisesse dizer alguma coisa. A camada de ar em teu redor era morna e chamativa e eu fui ficando ao pé de ti...

A dada altura parou o tempo. A sala parou. A banda deixou de tocar e estávamos lá apenas nós. Uns minutos, uns momentos apenas. Era ali que eu queria estar; contrariamente ao esperado não me sentia constrangida e queria estar perto de ti. Tentar conhecer-te.

Falámos, trocámos impressões e interesses. Ainda não sei quem és, nem quem foste, nem quem gostarias de ser. Não imagino as conversas que ainda não foram, mas delicio-me a pensar que as vamos ter. Gostei mesmo de estar perto de ti. Correu muito melhor do que sonhei. E gostei muito mais do que o que esperava.

Até aqueles momentos óbvios, que são sempre tão difíceis, tão peinlich, tão embaraçosos, não nos afectaram ontem. Não houve nenhum corar desnecessário, nenhuma piada deslocada, nenhuma frase falhada, nenhum timbre de voz desafinado. Por entre perguntas e interesses, respostas e sorrisos, ao som de uma aura melódica que os embalava. Houve um assumir de posições. Um entendimento subliminar, um interesse pronunciado e impronunciável. Nem nos momentos flagrantes em que nos tiraram fotos, nem quando os amigos apareciam com perguntas, nem quando os amigos faziam perguntas suspeitas antes de desaparecer. Foi simplesmente natural. Simples e natural.

Sofres de saudades do mar e enquanto mo dizias cheirei na tua pele a maresia. Senti-me noutro local, como se tivesse estado contigo na praia nessa mesma tarde. Mergulhei naquela vaga salgada envolvente e esqueci-me de dizer como partilho desse sentimento. Um tema para abordar novamente. Mais um tema. Mais tantos temas ainda. Ainda temos tanto para conversar nestas noites de Verão...

Cheiro a início de Verão

Foi chegando aos bocadinhos, semana a semana, trazendo consigo luz, sol, calor e esperança.
Despertou em mim as emoções adormecidas e apoderou-se, devagar, calmamente, de um espaço vazio dentro de mim, até eu um dia sentir que é tempo de o preencher.
É tempo de o viver novamente.
O Verão.
Das emoções, das cores, dos aromas, das recordações, das peles.
Plenamente.

Saturday, March 29, 2008

Cheiro a Visão

"É através dos olhos que o amor chega ao coração, pois estes são os seus guardiões e procuram aquilo que ao coração agradaria possuir." P.P., 1993

Estava escrito num canto rasgado de uma folha de caderno A4 e guardei o papel até hoje, deve ainda estar amarelecido por entre as páginas de um diário esquecido em caixotes de mudanças. Decorei a frase naquela altura e nunca a consegui esquecer - a mensagem sempre me pareceu tão profunda que me faz pensar. Ou então acontece alguma coisa na minha vida que me reporta a essa frase e pasmo-me de o quão sábio aquele "miúdo" de apenas 13 anos já era.

Como ontem. Ontem vi-te, pela primeira vez. Já te vejo há muitos anos e, como em todas as histórias, eras o amigo do irmão da minha amiga, mas nunca soube quem realmente eras, eras alguém que andava por ali, mais ou menos conosco. E ainda não sei quem és. Mas agora apetece-me descobrir.

Lembro-me de ti aos pinotes. Completamente irrequieto, eléctrico, chegavas a parecer quase, ou até, desregulado. Em 12 anos passaram-se duas vidas pelo meio e apareceste-me como se de uma pessoa nova se tratasse. Foste uma (re)descoberta.

Nem te reconheci. Só quando chegaste mesmo ao pé de mim trazendo um sorriso enorme nos lábios e dizendo "Olá Eva, há quanto tempo! Tudo bem contigo?" e me pregaste dois beijinhos na face é que me dei conta de que eras tu. E num milésimo de segundo, como nos filmes, passaram mil recordações pelo meu cérebro e ficou a pairar no ar aquela questão: "onde estiveste este tempo todo?"

Senti aquele baque inicial que não soube descrever e passei a noite a observar-te. Criaste uma postura, uma atmosfera, uma atitude. Fizeste-te Homem, e um homem bem interessante.

Foi uma noite de flirt como há muito não tinha. Sorrias, com esse sorriso enorme que te ilumina o rosto e parece que cria uma aura em teu redor. O teu sorriso é mágico. E contagiante, passei o tempo todo a combater os sorrisos que instintivamente se queriam formar no meu rosto. Tarefa impossível :)

As pernas ficaram bambas, havia um friozito no estômago e não dormi quase nada só a pensar nas sms que te tinha mandado e na próxima vez que te veria. Quero muito ver-te. Porque os sorrisos e as pernas bambas me dizem que és especial, e toda a tua linguagem gestual me dizia que sentiste que sou especial. E eu vou descobrir o quão especial és.

Monday, March 24, 2008

Cheiro a Saudades...

Numa destas noites sonhei contigo. Acordei bem disposta, imaginava-te por perto e passei o dia todo a recordar...

No sonho estavas perto, sentia-te meu, aproximavas-te de mim discretamente mas ao mesmo tempo evitavas-me. Não te compreendia mas estava feliz por estares por perto. Tinha tantas saudades tuas! Falámos muito, não me lembro bem de quê, rimos tanto e apeteceu-me imenso ver-te novamente e atirar-me para os teus braços, dizendo-te, finalmente, tudo o que ficou por dizer naquele dia... Naqueles dias.. Naquelas semanas...

Tudo saudades, muitas, de um tempo que há-de vir...:)

Wednesday, March 19, 2008

Cheiro a Não Querer

Eu não queria. Naquela noite, naquele dia, naquela semana. Eu não queria. Para mim, já não fazia sentido. Tinha sido um flirt de Verão. Um flirt mágico, doce, cheio de sintonia e algo que não sentir naquela altura. Tinha o coração dorido, amargurado pelos eventos recentes e não me sentia preparada para ter alguém na minha vida. Nem tu. Tu também ficaste surpreso pelo modo como as coisas aconteceram entre nós, a surpresa que ambos tivémos.

Lembro-me de fumar um cigarro que não queria e de nos ter trancado no teu carro. "Não saímos daqui enquanto não me deres um beijo". E beijei-te. E escorregaste pelo banco abaixo, de tão amedrontado que ficaste. Teve piada :)

E anos mais tarde houve outra pessoa que entrou à força no meu carro e me disse as mesmas palavras. E eu escorreguei pelo banco abaixo :) E ele conquistou-me e levou-me consigo nessa noite. Mas essa é outra história...

Lembrei-me da nossa história porque passei naquela rua. Naquela noite de Inverno mal me tinha despedido de ti e dos amigos, evitava-te a todo o custo porque ambos sabíamos que a longo prazo não ia resultar. E já éramos amigos há tantos anos que seria uma pena deixarmos de o ser.

Fiz uma aposta comigo mesma: "Passo lá na sua porta. Se o carro estiver, mando uma sms. Se não estiver, esqueço-o de uma vez por todas." E, na eventualidade (muito pouco provável) de ele lá "estar próximo do carro, encaro as coisas e falo com ele".

Matematicamente, não ia acontecer. E tem graça que a nossa relação vivia da matemática. Mas tinha de ser. Passei à tua porta e estavas dentro do carro. Estavas lá parado, a pensar, provavelmente no mesmo que eu. Cumpri o meu trato, abri a janela, convidei-te a entrar e fomos para longe. Para muito longe... E esquecemos o porquê de não querermos estar juntos.

Saturday, February 2, 2008

Cheiro a Roubo

Finalmente consegui roubar-te uns abraços. O teu calor, o teu perfume... Quando o fiz, tu correspondeste. Primeiro, a medo, com respeito, com distância, depois eras tu quem não desfazia os abraços que eu te roubava. Houve uma vez que me agarraste na cintura, pelas costas, para ver melhor algo que te mostrava. Foi-te instintivo e soube-me tão bem, quase senti o teu respirar sobre a minha orelha... Já não fugias aos abraços e continuavas a tocar-me com essas tuas mãos grandes e quentes. Como desejei que o meu tempo parasse nos teus braços...

Gostei de me sentir próxima de ti. Não pares...

Cheiro a Mel

Ouvi o mel na tua voz. Nunca a ouvira assim, tão doce, tão clara, tão sorridente... Imagino o teu rosto do outro lado, o esboçar de um sorriso, que recordo... e sorrio.

Nunca dantes fora assim. Conheço-te desde sempre. Sempre olhei para ti com respeito e orgulho, mas eras apenas e somente uma entidade. Alguém importante, próximo, como um anjo, com asas para voar, com vôos muito diferentes dos meus, com idéias diferentes, com objectivos diferentes, um amigo sem idade, nem cor, nem género. Era isso que tu eras.

Passaram-se uns anos e parece que aconteceu tudo. Fizeste-te Homem. És grande, és sóbrio, sabes quem és. Já não andas perdido, já não sentes necessidade de te afirmar, tens confiança em ti próprio. Já te sentes livre para conversar sobre qualquer coisa. Estás tão crescido que ao fim de horas foste capaz de te abrir comigo e partilhar alguns medos, alguns receios, alguns sonhos. Coisas que nunca partilhaste. Coisas que não te sabia capaz de partilhar.

Cresceste, e eu também cresci. Sei quem sou e quem procuro para mim, e sei como não procurar. E não o faço. Até digo que tenho esperança. Apareceste assim, de repente, de rompante, como se há muito esperasses por este momento. Nem sei bem, mas acho que aos teus olhos também me fiz Mulher. Acho que começaste a notar isso muito antes de eu poder notar que eras Homem. Senti-o através das tuas posições, pelos teus gestos, pelos beijos deitados ao vento. Surpreendeste-me, mas não o estranhei. A verdade é que também me começava a sentir atraída por ti.

Houve um momento. Não sei quando, mas deve ter havido um primeiro momento, há sempre um primeiro momento. Quando dei por mim estava envolta numa névoa de momentos, de sons, de cheiros, de brincadeiras, de cumplicidade. O que trocámos entre nós parece muito mais do que a faísca de uma coisa simples e física. Não o sei explicar, nem sei se era disto que andava à procura. Sei, que me senti próxima de ti, senti-me acarinhada, senti-me presente. E nunca dantes me fizeste sentir assim.

Tão próxima que passei estas últimas semanas a pensar em ti. Não o conseguia evitar. Pensava nos momentos que sei que desperdicei. Naquele dia, por ingenuidade, talvez, por falta de conhecimento, certamente. Não poderia prever que me ia sentir assim. Ansiosa. À TUA espera.

Sonho abraçar-te, sentir esses braços grandes e envolventes em meu redor, sentir a tua respiração no meu pescoço, dar-te um beijo no canto da boca. Imagino cenas de ternura, de meiguice, de carinho, de desejo, de paixão. Passeios na praia, noites ao relento, acordares de maresia.

Quero-te. Mas quero mais que isso: quero-TE.

Friday, January 18, 2008

Cheiro a Modernices

Um metrossexual a entrar num Audi A4. Sábado de manhã, 9h. A sair da minha casa.

Na brincadeira mas a sério, até parece que ando a subir de vida. As pessoas que me visitam saem lá de casa com kispos e roupas desportivas, a pé, de bicicleta ou de mota. O F. saiu de casaco comprido, calças beije e abriu o Audi à distância com o comando. Classe. Estilo. E o perfume certo. Mais um Armani. Mmm.. Sou louca por um Armani.

Cheiro a Paixão Platónica

Naquela noite apaixonei-me pelo teu sorriso. Ontem apaixonei-me pela cicatriz que tens na pálpebra esquerda. Adoro cicatrizes, trazem consigo personalidade e estórias a haver.

Naquela noite vi-te vibrar ao som dos anos 90. Aquelas melodias que me embalaram enquanto me criei, que me ajudaram quando me sentia só ou triste, que me motivaram quando tinha dúvidas. Aquelas músicas que me dizem tanto, que me fazem vibrar... Que me fazem sonhar outra vez. Também tu dançavas ao som das minhas músicas. E também os outros. Mas eu via-te só a ti.

Mexias as ancas sem medo, como deveria ser, como todos os homens deveriam fazer. Mas não fazem. Por medo ou vergonha, talvez. Com o andar desajeitado que tens nao esperava que te soubesses mexer. E eu observava-te. E sorria. Porque me sentia bem.

Estava leve, fresca, feliz. Apaixonada. Platonicamente apaixonada. Plenamente consciente de que as emoções exarcebadas que sentia não perdurariam, gozava cada instante. Olhava-te, sorria-te. Via-te dançar, sorrir, falar. E sonhava, alto, alto... Sem nunca cair ou me permitir adulterar a realidade.

Aquela noite foi mágica, quente, verdadeira, pura e bela. Estava apaixonada e não andava à conquista, não procurava prémio. Estava bem comigo própria e bem com a minha paixoneta. Foi uma noite de-li-ci-o-sa.

Até dançamos um com o outro. Senti o teu cheiro, o teu ritmo, os teus braços, as ancas, as pernas, as costas, os contornos de uns músculos a haver... e o anseio por um abraço. Foi difícil conter-me.

Ontem olhavas-me com olhos brilhantes, quase derretidos. Hoje também, e aproximavas-te de mim hesitante, quase a medo. Parecias um puto apaixonado. Como eu gostaria que fosses mesmo um puto apaixonado.

E não faço nada. Pois quero estar perto de ti e não estragar estes momentos, que são eternos. Estes momentos que me inspiram e acalentam a minha alma, que motivam e deixam sonhar. E sinto-me voar...

Cheiro a Emoções Teenagers

Aquela última noite custou a passar. O teu olhar procurava o meu e perdíamo-nos em longos momentos de brilho e emoção. Suspiro...

Ontem apareceste de surpresa e o castelo desvaneceu-se no ar... Não era suposto voltares, na minha cabeça e no meu coração já te imaginava longe, já te tinha mandado para a o outro lado do Globo.

O azul cristalino dos teus olhos puxava-me. Queria perder-me nos teus braços outra vez. Como naquele último abraço.

Vieste procurar-me para te despedires de mim. Foste querido, o abraço foi forte e sentido, longo e quente, e ainda me agradeceste. Pelo postal, suponho. Com o poema da Florbela.

Um abraço que me ficou na memória durante uns bons dias... Agridoce, sabia a todos os momentos que poderiam ter sido. Enfim...

E ontem, de repente, já não me sentia assim. Parecia ser apenas uma paixão platónica, de teenager, daquelas que não sobrevivem a uma semana sem ver o objecto do seu desejo. Será?

Cheiro a Suspiro

A dança do teu ombro.. será que me vais mostrar a magia que ela encerra?? Quem és tu que susurras sem falar, que me tocas sem eu te sentir, que me fazes sonhar, congelar o presente e viver entre o agora e o depois momentos secretos e apaixonados... perco-me nesses momentos em que não sou quem sou e tu deixas de ser quem és, agarro-me com esforço à realidade temendo dela desprender-me e procurar o teu abraçar... confundir esse momento intemporal com a realidade que o circunda e querer perder-me em ti... impossível...

Vejo a minha alma nos teus olhos, que me sorriem brilhando, como se me desafiassem a mergulhar nesse azul salgado e daí flutuar até aos meus sonhos e às minhas mais profundas raízes... esse azul que me toca bem no fundo onde encontra um verde com o qual se mistura naturalmente, numa fusão equilibrada e perfeita de tons e sombras, texturas e estruturas... um entrelançar dançante que ensina e inspira... irradiando uma energia anímica de poder indescritível...

Fecho os olhos e imagino o que será sentir-te perto respirar... nervoso, ofegante, ansioso... o prenúncio de um beijo.. um pretexto, um empurrão, uma deixa, um toque... sentir a tua mão possante puxar-me para ti... fundirmos os nossos olhares num só até ser doloroso ver-te, até me entregar no envolvimento de um beijo...

Aquela indirecta cúmplice dita num momento tornado inocente, então desprendida de laços e dúvidas... o que disseste e desdisseste, que contudo não ficou por dizer e se afirmou na sua própria certeza... um desejo que também soubeste expressar sem nada mostrar...

Cheiro a Affair Secreto

Fizeste anos e convidaste-me para a festa na tua casa.

Fiquei surpresa, contente, amedrontada, até. Tirando o dia em que nos conhecemos, nunca saímos juntos com mais alguém. Encontrámo-nos sempre em casa um do outro. Como se fosse um affair a sério, de homem casado que visita a sua amante no apartamento por ele montado. Só que somos ambos livres e não temos nada a esconder. Ainda assim fomos e vamos vivendo esse affair pela calada...

Ia ver os teus amigos, saber quem eles são. Conhecer pessoalmente as mulheres de quem falavas e as quais receava serem alguém na tua vida. Ia ver os teus amigos que também conheço, ia mostrar-me a eles e assim confirmar as suas suspeitas do que se passa entre nós. Partilhar um segredo! Ah, como se eles já não soubessem, não tivessem sabido da tua voz. Mas enfim, receios...

Receio de me quereres fazer entrar no mundo dos teus amigos, de eu passar a ser mais uma para os cafés, os cinemas, os jantares e os jogos, deixando para trás os flirts, as carícias, os momentos de presença e ternura. Seria o fim de uma era e talvez fosse essa a tua idéia. Fiquei um pouco triste, confesso, percebi que apesar de tudo gostava e acreditava na nossa história. Sem contudo saber pôr-nos um rótulo.

E se me quisesses apresentar mesmo aos teus amigos? Se quisesses que esta amiga especial os conhecesse e se desse a conhecer? Se quisesses pô-la à prova? Se quisesses mostrar-lhe a tua vida e quem tu realmente és? E se quisesses que ela tomasse outro lugar no teu mundo?

Sei que quando estás comigo és tu, vejo a honestidade no teu olhar, e eu sou eu. Não te consigo mentir nem esconder os segredinhos próprios deste negócio de ser mulher. Até parece que transpiras um elixir da verdade que me faz falar.

Quando estamos juntos estamos juntos e sós. Não há telefones a tocar, nem mensagens a escrever, nem fugidas a correr. Estamos juntos porque e quando queremos. Como queremos. E nesse momento pertencemos um ao outro. Sinto-me viva, querida, desejada. Presente.

É como um sonho. Vivo contigo sonhos reais que me mantêem viva a chama do sonho. Porque sei que nesse mundo há-de haver um gentleman carinhoso, dançarino e educado, charmoso e dedicado, cansado e perdido na vida, à procura daquela pessoa a quem se possa entregar. À procura de alguém de confiança. Serás tu? Poderias ser tu, tu és assim...

Mas nem eu própria sei. Não estou apaixonada. Quer dizer, não há borboletas no estômago, não há ciúmes exacerbados e eu sei esperar. O que sinto por ti é algo de especial. Também acho que não estás apaixonado por mim. No fundo acho que somos duas pessoas que gostam uma da outra mas que não são capazes de arriscar.

Telefonei-te na véspera e fingi não saber que era o teu aniversário. Tinha até planeado uma sms de sedução, adorava ter sido o teu presente de anos. Menti e disse-te que andava ocupada com outras pessoas e que talvez por isso chegasse tarde ou tivesse de sair cedo da tua festa. Tu concordaste e ficaste contente por eu dizer que ia.

Vesti-me a matar, maquilhei-me de modo provocante, usei o perfume certo e pus-me a caminho, duas horas depois da festa começar.

Notei que ia porque te queria ver. Porque queria ver-te no teu habitat. Porque apesar de não teres muito tempo para mim eu ia estar por perto. Acabámos por analisar toda esta questão e foi então que comecei a ver que nós tínhamos tudo. Nós temos tudo para dar certo. Mas ninguém dá o braço a torcer. Eu não quero dar nenhum passo. Tenho imenso medo de falhar.

Quando me viste ficaste contente. Abraçaste-me e não paraste de me tentar agarrar. Prendias-te à minha cintura e disseste que gostavas do visual. E eu, parva, assustada e envergonhada, tentava fugir de ti. Tontices de teenager.Perguntaste se eu ia sair depois e eu não consegui mentir e disse que apenas tinha tido vontade de me produzir assim.

Passavas por mim e tocavas-me de leve nas costas. Ou no braço. Ou na cintura. Fazias uma pequena carícia que me mostrava que me querias.

Segui-te até outro quarto para te abraçar. Beijámo-nos e desejei-te um feliz aniversário. Foi um beijo mágico, envolvido numa bruma de desejo e cumplicidade. E saudade, muita saudade.

Quando fiz dezasseis anos ofereceram-me um postal que dizia: “Estou à espera de uma ocasião para me poder aproximar de ti. Que tal o teu aniversário?” Era nova e adorava-o, mas ele era um grande amigo e nada fiz para o conquistar. Fugi dele, até. Guardava comigo o segredo daquele amor secreto e proibido e nunca consumado.

Daí que aproveite sempre as ocasiões que a vida me dá. Convidaste-me, quiseste ver-me, para passar a ser apenas mais uma amiga ou ser apresentada como amante. Eu não sabia mas tinha de saber. Por isso fui à tua festa. Fiquei a saber histórias cúmplices e segredinhos.

Até pediste desculpa por não me poderes dar mais atenção. E eu sei que me dizias a verdade. Que querido que tu és. Nesse momento comecei a achar que o nosso affair já não era segredo e que não tinhas vergonha nem medo de mostrar às pessoas o que fazias.E cumpriste com a tua palavra.

E é isto. Desde que voltei a casa, após abandonar o brunch a meio para vos deixar conversar e falar sobre mim, que só penso em ti e analiso as minhas reacções. Não vale a pena estar com rodeios. Eu gosto de ti como homem. Atrais-me. Não és um qualquer. És um tipo com quem eu gosto de passar algum tempo. Apenas?

É que contigo não quero falhar. Sei que um dia qualquer esta relação acaba, quando um de nós conhecer outra pessoa esta brincadeira de amigos acaba. Sei também que não nos vemos muito porque tu não passas cá muito tempo. Sei também que não tenho muito tempo para partilhar. Se tentássemos alguma coisa íamos stressarmo-nos um ao outro, ia acabar em ciúme e possessividade e, pior ainda, em cobranças de afectos atrasados.

Não quero passar por isso contigo. Nós somos cool, damo-nos bem, somos livres mas estamos um com o outro. Eu não te peço mais nada e tu não me pedes mais nada, esse é o segredo desta relação. Um dia saberemos. Os dois.

Cheiro a Dor de Coração

Deitei fora a tua escova de dentes.
Minto. Não a deitei fora, simplesmente pu-la noutro lugar, pois custava-me imaginá-la a não vir a ser usada. Não a deitei fora na esperança de tu um dia vires cá jantar ou almoçar e notares a sua ausência. Talvez provocasse um terramoto em ti, talvez te magoasse veres finalmente encerrado o capítulo das nossas vidas que quiseste acabar, talvez por um segundo pensasses que te esqueci e que a minha vida continuou. Talvez te apercebesses de que querias continuar a escrever parágrafos nesse capítulo, tal como eu. Poderia então dizer-te que ainda a tenho, tirá-la do armário e dar-ta, deixar-te usá-la mais uma vez. E abraçar-te ternamente.

Mas eu não quero viver de ilusões. Sonhei tanto contigo, ainda sonho, mas não posso atrever-me a sonhar mais. Éramos dois, éramos apenas um, entendíamo-nos, davamo-nos bem, éramos muito diferentes mas estávamos em sintonia, tínhamos interesses comuns e gostávamos de estar juntos. Acima de tudo. De conversar, jantar juntos, sair, tomar café, passear um pouco, ver amigos, partilhar jogos e brincadeiras, piadas e ambições. Falávamos de sitcoms e gostávamos de contar histórias. Fazíamos amor e o sexo era uma brincadeira séria, coisa de adultos. Abraçávamo-nos ao adormecer e eu ficava deliciada a ver-te acordar.

O teu acordar. Essa luta constante contigo próprio, eheh. Como me dava gozo fazer-te festas pela cara e ver-te sorrir antes de acordares. Estavas sereno, calmo, em paz contigo próprio, como se fosses uma criança inocente e sem preocupações para além do drama de ter de abandonar a cama. Temos ritmos tão diferentes e, contudo, sabíamos fazer alguns planos e gozar da companhia um do outro. Para compensar tínhamos os nossos fins-de-semana, curtos ou longos, de um ou dois dias, com interregnos para compras, cafés e outros programas com outros amigos, mas com direito ao nosso sagrado brunch que gozávamos sem pressas nem pressões.

Desde o início que me levaste a sair contigo e com os teus amigos. E eu sentia-me lisongeada por me convidares. Por me quereres mostrar o teu mundo. Por quereres mostrar-me ao teu mundo. Daí que me custe a crer que eu tenha sido apenas mais uma namorada e não “a” namorada. Que tenhas tentado esta relação só por tentar. Nunca me senti como uma segunda hipótese. Tu querias estar comigo.

E ainda queres. Mas não sabes como. Estás tão envolvido nos teus stresses (e nos dos que te rodeiam) que já não consegues ver a beleza do que nós tínhamos. Que triste... Com essa tua teoria de que há patamares de gostar e de que os sentimentos têm de crescer durante o desenvolver de uma relação ficaste baralhado. Que se passa contigo, afinal? Ao fim destas semanas sentiste que tinhas de mudar tudo.

Foi um choque, um imprevisto, uma estalada na face, uma dor lancinante e um sentimento de incompreensão tão grande que nem sei bem explicar. Doeu. Chorei, barafustei, dormi e não queria acordar, falei, desabafei, recolhi opiniões, até liguei ao teu melhor amigo. Se alguém decidisse a tua vida por ti sem te consultar, não farias o mesmo?

Se calhar viste que as coisas lentamente se iam tornando sérias e ficaste com medo. Medo de fazer a escolha errada. Medo de fazeres uma promessa a ti próprio. Medo de decidir agora que ias ficar com esta mulher para o resto da tua vida. Como se tivesses que decidir isso agora. Como se eu te pedisse uma promessa desse tipo. Não são as relações que dependem das decisões, as decisões é que são, sim, dependentes das relações.

Se calhar não percebeste o que realmente te demonstrava ao dizer que gostava de ti. Esta minha alma de aprendiz de escritor busca alcançar o texto perfeito. O livro ideal, aquilo que vou mostrar ao mundo para o mudar. O poeta sonha... e o meu sonho é escrever umas linhas que fiquem gravadas na memória de alguém. Como tantas que ficaram gravadas na minha memória. O meu sonho é trazer as minhas emoções e impressões àqueles gostariam de viver algo diferente, vidas que não as suas. Assim penso e por isso escrevo. Gosto de falar, nasci para contar histórias...

Escrevo acima de tudo para mim. A “escrita imperfeita” é terapia, ajuda a pensar. Poder ver as idéias no papel tempos mais tarde é recordar e reviver. É compreender-me a mim própria. Por isso escrevo. Para não esquecer. Para não me perder, para continuar a saber quem sou. Para me procurar a mim mesma. É curioso, durante a nossa relação não escrevi uma única vez. Só os postais e bilhetinhos ocasionais que te deixei. Talvez tenha sido apenas falta de tempo, pois para escrever é preciso estar sozinha e ter vontade de pensar. Ou melhor, de não pensar e apenas deixar os dedos deambularem-se pelo teclado. Mas talvez tenha sido por já não andar perdida, por não precisar de me encontrar. Contigo eu era sempre eu própria, mais verdadeira do que contigo nunca cheguei a ser.

Dizia-te as coisas que te dizia para que o soubesses. Para que talvez percebesses como eu me sentia, para que sentisses o que era ser eu, como se isso fosse possível. As palavras fortes sempre te assustaram mas bem sabes que eu não precisava delas para te demonstrar como gostava de ti. Eu fazia planos, convidava-te, surpreendia-te, deixava-te com adivinhas para resolver. O gozo que era ver a tua cara de puto esperançado de volta de um brinquedo novo. Eu até cozinhava para ti...

Conosco as coisas fluíam sempre de maneira calma e natural. Sem stresses nem pressões. Tenho medo que me tenhas interpretado mal nalgumas ocasiões e te tenhas sentido pressionado. Talvez tenha influenciado a tua decisão. Nunca te quiz pressionar e gostava de ter a certeza de não o ter feito. Infelizmente não posso acreditar nisso e desejava apenas aprender a não o fazer. Talvez se tivéssemos falado sobre este assunto a relação não teria tido um final tão abrupto e frio.

Não sei o que o futuro nos reserva. Não sei o que o futuro nos reservaria, se ainda estivéssemos juntos, mas gostava que soubesses que sempre te vi no meu presente, agora, na minha realidade. Eras parte do meu mundo. E via-te no meu futuro, sempre. Sentia-o. Porque sei que contigo posso viver, sei que contigo posso ser eu mesma e posso continuar a sonhar. Sei que por ti consigo fazer concessões. Sei que não tenho medo do que sinto e de o mostrar a ti e ao resto do mundo. Esta relação tinha tudo para dar certo. “Até ao dia em que o mundo desabou...”

Demorei um bocado a perceber o que me estavas a dizer. Pensava que íamos conversar sobre nós, os nossos medos e pressões. Nem nos deste hipótese de descobrir o que estava errado conosco. Não que estivesse algo extremamente errado, mas havia algo para melhorar. Ou pelo menos para esclarecer. É apenas preciso conversar. Faz tudo parte de uma relação afectiva. Fortalece a relação. Fortalece os sentimentos do casal e ajuda os dois a crescer. Ao fugir desta etapa evitaste que os teus sentimentos crescessem. Por um lado dizes que esperavas que crescessem, por outro não os deixaste crescer. Irónico...

Se calhar já não te lembras do que é estar envolvido numa relação a sério. Daquelas da vida real, que nada têm a ver com os filmes e os livros da nossa infância. Se calhar eras muito novo quando tiveste a tua última namorada e a tua maneira de encarar o assunto congelou no tempo até hoje. Acreditavas talvez num amor ideal, perfeito e intenso como nenhum outro. Se calhar até ficaste estes anos todos à espera da tua mulher ideal. Fico feliz por teres pensado que poderia ser eu, mas fico terrivelmente triste por teres decidido que essa mulher não pode ser eu.

Tens uma visão imatura e pouco realista do que é uma relação amorosa. Tens objectivos definidos que têm de ser cumpridos. Como se de um programa de informática se tratasse. Quando na realidade a vida não é assim. “O amor tem razões que a própria razão desconhece.” É impossível categorizar uma relação. As pessoas são diferentes e não podes esperar que eu me comporte como as outras mulheres que conheceste. Que os meus medos sejam semelhantes aos delas. Que as minhas reacções signifiquem o mesmo. Não podes interpretar-me da mesma maneira. Tu também já não és esse teenager idealista que foste outrora, és uma pessoa diferente, mudada pelos anos, pelas vivências, pelos sonhos mudados e perdidos e decerto pelas muitas decepções. Não podes “ler” as tuas emoções como as lias naquele tempo. As coisas modificaram-se e já não têm nem o mesmo significado, nem a mesma importância.

“Viver é fácil, difícil é saber viver”. Parece que nos teus anos de solidão e isolamento te esqueceste do ingrediente secreto para uma relação de sucesso: saber viver com essa pessoa. Saber partilhar o dia-a-dia. Chegar a casa com vontade de partilhar os risos e os choros, os stresses e as frustrações. Chegar com um sorriso nos lábios por saber que se regressa ao porto de abrigo. Safe haven... saber que se pode contar com essa pessoa para esses momentos. Saber que não estamos sozinhos no mundo. E nós tínhamos isso, essa vontade de partilhar, essa vontade de poder esquecer os problemas em conjunto. Sabíamos que tínhamos um abraço quente e protector à nossa espera quando precisássemos. Nós sabíamos viver um com o outro, nós podíamos viver um com o outro.

Hoje em dia é tão difícil encontrar alguém com quem se possa viver. Estar apaixonado é fácil, conhecer alguém e ter uma relação carnal é muito fácil. Digo eu, que já passei por experiências várias de tipo físico, fácil e de rápido esquecimento. A paixão não chega. É preciso saber amar. Saber viver. Daí que dê tanto valor ao que nós tínhamos.

Falas-me de um sentimento que tens mas que não chega.

Sonho contigo e com o dia em que me vieres dizer que tudo não passou de um engano. Que sentiste a minha falta e percebeste o quão importante eu sou para ti. Que me queres de volta na tua vida a preencher o vazio que deixei quando me mandaste embora. E abraças-me como da primeira vez. Ou como da última vez. E eu sonho com esse teu abraço... Foi um abraço determinante, decisivo, cheio de saudade, emoção, alegria, energia, amor e sei lá que mais. Esse abraço apaixonado foi realidade, essa noite de saudade e paixão foi realidade. E não foram momentos únicos, houve muitos outros do mesmo género.

Daí que não consiga acreditar quando me dizes que nunca estiveste apaixonado por mim. Ou que não gostas de mim o suficiente. Não acredito que não sintas nada por mim pois sinto a tua voz fraquejar quando o dizes. Como se precisasses de mentir mas não soubesses como. Vi-te chorar, vi-te ficares baralhado, vi-te dares-me esperanças e destruires as minhas esperanças.

Não acredito pois sempre me trataste com amor e ternura. Foste sempre caloroso comigo e perto de mim sentias-te à vontade. Deixaste-me entrar no teu mundo, na tua vida, no teu espaço, como a poucas pessoas o permitiste. Eu sei que sou especial para ti. Importante, até. Não devias ter medo de me deixar ser importante dessa maneira. Gostar de alguém não é crime.

E também não é uma calamidade descobrir que tudo foi uma ilusão. É-me ainda difícil admitir essa possibilidade.. Mas se tiveres coragem para descobrir a fundo porquê e ter a certeza de ter tomado a decisão mais adequada, quem sou eu para duvidar? Infelizmente não me mostraste essa segurança na tua decisão...

E agora espero. Deixo-te pensar e tento não pensar. Tento voltar à minha vida de single desocupada e preencher o vazio que deixaste quando me deixaste para trás. Tento combater o sentimento de impotência que me acompanha. E tento não ouvir o que me diz o meu coração esperançado, que sonha contigo e com o porto seguro do teu abraço.

Cheiro a Despedida

Cresci ao som do Grunge e só hoje consegui perceber “Muzzle”, pois reflecte exactamente como me sinto. Como se tivesse tanto para dizer mas não me fosse permitido sequer pensar em dizê-lo. Como se quisesse gritar ao mundo o que sinto e não me saísse a voz. Como se gritar te pudesse alcançar. Como se te tivesses tornado inalcançável nestas últimas duas semanas.

Tenho uma raiva contida que espera libertar-se e temo o momento da explosão, pois posso provocar estragos irreparáveis. “Gosto de ti, porra!”, e não te quero magoar. The pen is mightier than the sword. Mas não posso deixar de te dizer como me sinto e o que acho que poderia ter sido diferente.

Sinto-me enganada. Ao despedires-te disseste que querias continuar a ver-me, a sair comigo. Pensava que fosses sentir a minha falta e que te fosses esforçar por me contactares. Na altura tinha a ilusão de que sentirias a falta da tua namorada (e não da amiga) e voltarias atrás na tua decisão... Mas de qualquer forma contava que sentisses a falta da amiga e companheira...

Vivemos algo tão intenso, puro e bonito que me custa imenso notar que tu já não estejas aqui. Aposto que também sentes a minha falta. Podes não querer estar comigo como namorada, podes não gostar de mim o suficiente para isso, mas decerto estranhas a ausência de uma presença simpática que te fazia companhia, te fazia sorrir e fazia-te sentires-te importante e bem contigo próprio. Devo ter massajado imenso o teu ego..

Sinto falta das nossas conversas, dos nossos cafés e brunches em manhãs preguiçosas, das nossas private jokes, das nossas sintonias, das nossas maneiras de pensar parecidas. Sinto falta da nossa cumplicidade.

Sinto falta do teu sorriso, verdadeiro e espontâneo, da tua voz, quente e sensual, do teu abraço, forte e seguro, do teu beijo, natural e apaixonado, da tua pele, familiar e macia, do teu cheiro a ti... Pensar que contigo dormia calma e descansada, eu que não consigo dormir com mais alguém no mesmo quarto... Ainda para mais com o teu ressonar pesado. Tu conquistaste-me para ti para depois me destituires do meu trono...

Falavas-me de confiança mas foste tu quem me atraiçoaste. Fizeste-me combater os meus velhos fantasmas, superar esses medos e permitir-me a mim própria confiar em ti. E fi-lo. Por amor, talvez. Confiei em ti pois acreditava no que sentia, acreditava no que tu sentias e ainda acreditava em nós. Sabia como tínhamos a ver um com o outro, sabia que gostávamos de estar juntos e saberíamos viver juntos, sabia que não desaparecerias de um dia para o outro, sabia que ias estar sempre a meu lado. E sentia que conhecia todas as verdades do Mundo...

Como me enganei. De um dia para o outro desapareceste mesmo. E nunca suspeitei do que iria acontecer pois acreditava em nós. Era tua e confiava em ti para tratares de mim. Se calhar ainda acredito nalguma coisa. Mas já não serei capaz de confiar.

Cheiro a Águas Furtadas

Acordo e vejo uma cortina envelhecida a revestir uma janela antiga com bordos a apodrecer. É uma água-furtada, como tantas que sempre amei e sempre aspirei a ter, e está no coração da cidade, onde tudo acontece e os documentos se perdem e são reencontrados.

D. dorme. Mexe-se e dou por mim a pensar como só encontro gente com estranhas maneiras de dormir, estranhos vícios. Faz ruídos estranhos e nem se apercebe de que estou encostada a si. Relembro a noite anterior e imagino o dia que me espera. O peso de um possível arrependimento a pairar no ar.

Era uma festa temática, ao som de contos da fada. Fui de sapo. Vestida em verde-tropa da cabeça aos pés, pintei a cara e os cabelos de verde e desenhei uns olhos e uns lábios enormes. A história por detrás do costume? Esta menina-sapo tinha sido beijada, mas como em muitas histórias de amor e enganos, o amor não era verdadeiro e a transformação em princesa não se tinha dado por completo.

Estávamos agarrados no corredor, arrastei-o até ao quarto da flatmate e trancámo-nos lá dentro. Fechar a porta à chave parecia ser a ordem do dia, era moda ver gente a sair de quartos com ar de réu. O que sei é que o beijo prometia... Chegámos a casa e continuámos a história que horas antes tinha ficado interrompida, e deixámo-nos adormecer nos braços um do outro. Acordámos horas mais tarde para passar uma tarde preguiçosa na cama, por entre o despe, toca, fode, conversa, veste, despe, toca, etc. Tenho um sorriso melancólico quando relembro ver as curvas e sombras de dois corpos despidos, deitados lado a lado, qual quadro. Relembro as mãos que acompanhavam essas curvas: braços, cintura, ancas, coxas... Lembro-me de um Adónis bem constituído, repleto de músculos trabalhados e evidentes. Lembro-me de um pescoço elegante mais elevado do que o meu. De uns olhos pestanudos, de umas mãos grandes, de um sorriso suave...


Às vezes é bom deixar a maluca da realidade que nos assola mostrar-nos a verdadeira realidade que atrás de si se esconde.

Cheiro a Armani

Aquele ombro. Sinto a claridade da manhã entrar no quarto e deixo-me acordar. A meu lado o ombro, aquele ombro. Os contornos daquele ombro.

A dança é sedução, a dança do ombro. A pista de dança foi o meio de seduzir até mais não aguentar e ter de fugir para casa. Havia toques subreptícios, olhares, palavras, sei lá que mais... Dançar é quase fazer amor.

E em seguida observo os braços, simples e quase nús, escondendo os tímidos músculos que se revelariam apenas mais tarde. Uma mistura de recordações e emoções apodera-se de mim.

Abraçados no sofá, pele nua envolvida por um cobertor, e a lareira acesa. Uma lagarta. Acolhedor, romântico, até.

A sua pele macia, o seu cheiro acriançado e terno, doce e suave, disfarçado por baixo de um Armani. Como passaria dias em seu redor.

E recordo. E penso acordá-lo e persuadi-lo a relembrar-me daquela madrugada chuvosa.

Cheiro a Histórias de Encantar

Música lamecha... Boy meets girl, they fall in love… Um amor impossível, improvável, impraticável, mas ainda assim aquele amor com que todas sonhamos desde que neste mundo estamos.. Até o mais forte feminismo não consegue negar esta esperança tão comum ao ser feminino, esta herança que se obteve de mães, avós, primas, tias, madrinhas, das Brancas de Neve dos livros da nossa infância, das Barbies com que brincamos e das Marianas da televisão...

Aquele amor que vive do que não foi dito e não ficou por dizer.. Feito de momentos e magia, de química e ambiente, de velas e poemas, de perfumes e odores, de sons e cores... de... de... aquele amor que existe por si só e em si se encerra e se alimenta, que cresce e se desenvolve à sombra de um momento que há de vir.... aquele olhar, aquele movimento, aquele sorrir... a linguagem corporal como veículo de transporte até um objectivo apenas...

Possivelmente um amor carnal, hormonal, apaixonante, de entrega, volúpia, energia e poder.. de subjugar e ser subjugado, de vencer e deixar-se ser vencido...um jogo de interesses, um comércio de pseudo-emoções vividas intensamente e momentos depois desvanecidas... de promessas perdidas no ar... uma história que passa a ser muito nossa, um segredo, um doce, uma recordação...

Ou um amor verdadeiro, quente, meigo, calmo, sereno, tão puro de quase virginal... um dar que é mais que receber, um sonhar a dois, uma alma em dois corpos... será?? Será possível viver algo belo assim, após coleccionar erros e decepções?.. Felizes os que souberam preservar o amor da juventude, duma altura em que ainda éramos puros de espírito e sonhar era mais importante que viver...

E agora... agora que me sinto só, que escolhi estar só... Que busco eu? Por entre o que vou vivendo, por entre os momentos em que sigo o lema Carpe Diem... Que espero encontrar? Certamente a magia de um olhar, um entendimento especial.. Aquele serpentear dos ombros que me há de guiar.. O criar de uma linguagem nova, sem receios nem tabus... sem limites nem pressões... sem ilusões... viver no presente.. registá-lo para o melhor recordar... um affair, um reunir de momentos... um desprender dos clichés e das regras que impusemos a nós próprios...