Wednesday, March 19, 2008

Cheiro a Não Querer

Eu não queria. Naquela noite, naquele dia, naquela semana. Eu não queria. Para mim, já não fazia sentido. Tinha sido um flirt de Verão. Um flirt mágico, doce, cheio de sintonia e algo que não sentir naquela altura. Tinha o coração dorido, amargurado pelos eventos recentes e não me sentia preparada para ter alguém na minha vida. Nem tu. Tu também ficaste surpreso pelo modo como as coisas aconteceram entre nós, a surpresa que ambos tivémos.

Lembro-me de fumar um cigarro que não queria e de nos ter trancado no teu carro. "Não saímos daqui enquanto não me deres um beijo". E beijei-te. E escorregaste pelo banco abaixo, de tão amedrontado que ficaste. Teve piada :)

E anos mais tarde houve outra pessoa que entrou à força no meu carro e me disse as mesmas palavras. E eu escorreguei pelo banco abaixo :) E ele conquistou-me e levou-me consigo nessa noite. Mas essa é outra história...

Lembrei-me da nossa história porque passei naquela rua. Naquela noite de Inverno mal me tinha despedido de ti e dos amigos, evitava-te a todo o custo porque ambos sabíamos que a longo prazo não ia resultar. E já éramos amigos há tantos anos que seria uma pena deixarmos de o ser.

Fiz uma aposta comigo mesma: "Passo lá na sua porta. Se o carro estiver, mando uma sms. Se não estiver, esqueço-o de uma vez por todas." E, na eventualidade (muito pouco provável) de ele lá "estar próximo do carro, encaro as coisas e falo com ele".

Matematicamente, não ia acontecer. E tem graça que a nossa relação vivia da matemática. Mas tinha de ser. Passei à tua porta e estavas dentro do carro. Estavas lá parado, a pensar, provavelmente no mesmo que eu. Cumpri o meu trato, abri a janela, convidei-te a entrar e fomos para longe. Para muito longe... E esquecemos o porquê de não querermos estar juntos.

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