Cheguei há pouco mais de uma hora e já me apetece escrever-te. Escrever-TE. Porquê, não o sei dizer. Busco a resposta em mim e não a vejo. Confesso que tenho medo de a encontrar... Uma história é um tesouro. Tê-la, guardá-la, lembrá-la, são momentos revividos, sonhados, recontados e reanalisados. É ver tudo novamente com aqueles olhos, é crescer novamente, e novamente sonhar...
Tu apareceste e fizeste-me viajar no tempo. Não fui apenas atrás de um sonho de verão, de um carinho mantido à distância, mas fui reencontrar a minha inocência perdida. A minha alma jovem que era pura e livre. Livre pois não se deixava manchar, pura pois não tentava conquistar a liberdade dos outros.
E desde então tanto tempo passou, tanto vivi, tantos erros cometi. Sofri, chorei, esperneei, mas também sorri, vivi, sonhei... Mas o sonho foi-se desfazendo lentamente, e a busca da pedra filosofal tornou-se mais difícil, o amor cada vez mais inacessível. E porquê? Porque a vontade de o encontrar era tão grande que o via onde ele não existia, fazia-o surgir onde queria que ele aparecesse. Resultado: iludi-me, fiz sofrer e comecei a duvidar de mim. Cada amigo novo que tinha era encarado como uma hipótese, cada sorriso e cada olhar analisados, e quantas interpretações erradas não terei feito? Cada uma delas a contribuir para o aumento da descrença em mim própria. Fui-me tornando fútil e, de certa forma, vazia...
Quando tu reapareceste eu estava à espera de te encontrar diferente. Como? Sei lá, só sei que todos mudamos e talvez não te fosse reconhecer. Mas não, estava redondamente enganada. Tu apareceste simples e livre, relaxado e leve, o jovem perspicaz e autónomo por quem me apaixonei. Já lá vão dez anos mas és das pessoas que mais marcaram a minha existência. Agora percebo porquê, na altura talvez não o soubesse classificar. Contigo sentia-me livre. Livre de ser quem era. Sem medos, tabus, barreiras, sem inibições. Foste a primeira pessoa a fazer-me sentir assim e por isso nunca serás esquecido. Passávamos tempo juntos pois gostávamos da companhia um do outro, gostávamos de conversar. Mais tarde as coisas mudaram, passei a estar com alguém por querer companhia, ou por ele querer a minha companhia. As razões erradas, como podes ver... Passei a ter a preocupação de me manter interessante para a outra pessoa. Como se isso fosse preciso entre duas pessoas que gostam uma da outra...
Rever em ti, hoje, aquele jovem de 94 foi encontrar de novo em mim a Eva desse tempo. E dela tinha algumas saudades. O engraçado é que ela despertou em mim! Há novamente esta maneira fluida de falar, esta desinibição na escrita, há muito limitada, há muito constrangida. Ela voltou ao de cima e fez-me ver como tenho estado enganada. Fez-me ver o quão simples as coisas são e quão bela a vida é. E ver que é impossível permitir que as pressões que me rodeiam a adormeçam outra vez.
Neste momento queria agradecer-te, mas isto não são coisas que se agradeçam. Posso dizer-te, contudo, que estou muito contente por teres reentrado na minha vida. Que quero manter-te por perto, ser tua amiga como já o fui, pois és alguém especial com quem me sinto mais perto de mim própria. Será que me faço entender?
Da maneira que escrevo parece que deixo mensagens nas entrelinhas... será? Como já te disse, não acredito no acaso: tudo tem o seu tempo, o seu lugar e o seu porquê de acontecer. O futuro manifesta-se a seu tempo, e seria teimosia minha apressá-lo ou questioná-lo. Como já foste importante um dia, podes sê-lo novamente. O que sei é que desta vez não te posso perder. Os erros do passado ensinaram-me, e os remorsos corroeram-me durante anos... Podes não ser mais nada para além disso, mas meu amigo hás-de continuar a ser... É a segunda vez que deixas magia no meu ser e isso não quero perder. Quero passar os próximos trinta anos a trocar impressões contigo: juntos, a 2000 Km, via net, via telefone, como?, porquê?, sobre o quê?... isso não interessa nada...
1 comment:
Fecho os olhos e vejo o teu sorriso.
O vento traz o teu cheiro.
O silêncio permite-me ouvir a tua voz.
Gravado na mente…
Um momento, apenas um momento, sem razão aparente,
Apenas surgiu e agora perdura no pensamento.
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